São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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Ocidentais ainda suspeitam do modelo chinês

GILSON SCHWARTZ
DO ENVIADO ESPECIAL

O "day after" da devolução de Hong Kong à China, feriado que foi também véspera da reabertura da Bolsa local, trouxe de novo à tona os debates sobre o modelo "um país, dois sistemas".
As emissoras de televisão locais produziram reportagens especiais sobre o tema. Até a véspera do feriado prolongado, o clima era de euforia no mercado de ações de Hong Kong. Há quem aposte num movimento de realização de lucros e em maior ceticismo diante da suposta interferência de Pequim nos assuntos financeiros do território.
A impressão, por enquanto, é que a dificuldade maior para entender ou aceitar o sistema vem dos ocidentais. Os chineses declaram-se favoráveis ao modelo ou mesmo adeptos de há tempos.
Avaliar tendências de mercados de capitais não é simples, mas parece que os ocidentais padecem de enorme dificuldade para entender a cultura empresarial asiática.
Assim, apesar do bombardeio de informações sobre Hong Kong e China nas últimas semanas, um correspondente escreveu outro dia que o "guanxi" da China (reciprocidades e formação de redes) é praticamente sinônimo de corrupção. Aliás, os céticos insistem na falta de transparência e na corrupção endêmica de burocracias hipertrofiadas como a chinesa.
O "guanxi", entretanto, é uma prática de relacionamento típica não apenas na China mas, sob formas variadas, no Japão e na China, que nada tem de intrinsecamente perverso. Mas, para o analista ocidental, se o lobby, as relações públicas e o "networking" são naturais e inevitáveis no mundo dos negócios, o "guanxi" oriental é exótico e favorece a corrupção.
Mas há um jeito fácil de abandonar os juízos de valor sobre a confiabilidade dos chineses na condução do modelo "um país, dois sistemas". Basta olhar no mapa onde fica Hong Kong.
A ilha fica num ponto privilegiado de conexão entre as principais capitais, facilitando as conexões entre a China e Tóquio, Jacarta, Bancoc, Manila, Cingapura, Seul e Taiwan.
O "segredo" de Hong Kong é ser um nó central da região mais próspera do planeta. Não é por acaso que o maior investimento em Hong Kong, hoje, é um aeroporto de mais de US$ 10 bilhões. É em torno dessa pista que se quer erguer, literalmente, o verdadeiro império do centro.
(GS)

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