São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PF vai indiciar 3 detetives por espionagem política

Um funcionário da Telebrasília envolvido é identificado

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal vai indiciar três detetives particulares por escuta telefônica em Brasília e já tem o nome de um dos funcionários da Telebrasília que forneceram documentos sigilosos aos envolvidos.
Os inquéritos policiais contra os suspeitos serão encaminhados à Justiça nesta segunda-feira. Um dos detetives acusados, o ex-policial civil e sindicalista Romualdo da Rocha, negou que estivesse investigando o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), líder do governo no Congresso.
Os outros dois detetives envolvidos são Wagner Jorge Abrahão, sócio de Rocha na empresa Águia de Investigação, e Laurenir Alves, o "Bareta", da Agência de Investigação Brasília.
Será também indiciada Sônia Nunes Beltrão, em cujo nome está registrada a Águia. Eles não quiseram falar à Folha.
Nessas empresas, a PF apreendeu, no último dia 1º, extratos das ligações telefônicas do senador Arruda e do ministro Raphael Barros Monteiro Filho, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Segundo a investigação da PF, a Águia possui página na Internet (rede mundial de computadores), onde oferece serviços de espionagem eletrônica com pessoal treinado, "a maioria ex-policiais".
A Telebrasília informou à PF que identificou um dos funcionários envolvidos com os detetives, com base no extrato de conta telefônica mantido sob sigilo, a pedido do assinante. Esse documento foi encontrado na Águia.
Esse tipo de conta, segundo a PF, é informação reservada sob o "Código 3" nos computadores da empresa de telecomunicações.
A PF espera chegar também aos funcionários responsáveis pelo fornecimento dos extratos do senador e do ministro aos detetives.
Outros seis inquéritos deverão ser abertos pela PF. Ao todo, foram feitas buscas em 19 empresas que anunciam serviços de escuta em jornais de Brasília.
Políticos
A Folha apurou que Rocha é secretário-geral da Feipol (Federação Interestadual dos Policiais do Norte e Centro-Oeste) e já participou do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal.
O presidente da entidade, Mozart Baldez Filho, pediu esclarecimentos de Rocha sobre a denúncia e recebeu dele a resposta de que não estava investigando o senador.
"Ele negou isso, e eu acredito, porque nós, sindicalistas, precisamos dos políticos para facilitar o atendimento das reivindicações da categoria no Congresso", disse Baldez Filho.
Segundo ele, o fato de a PF ter encontrado o extrato do senador será explicado por Rocha quando for depor no inquérito.
Precedente
A Câmara já teve um caso de grampo telefônico na atual legislatura. No início de 1995, o deputado Feu Rosa (PSDB-ES) começou a perceber cortes nas ligações de seu telefone residencial, mandou fazer uma varredura e constatou a escuta clandestina.
"Mas, com certeza, o alvo não era eu. O antigo morador do apartamento era o Arraes (Miguel Arraes, do PSB, atual governador de Pernambuco), um político muito visado", afirmou Feu Rosa.
A varredura, segundo ele, foi feita por um delegado da Polícia Federal do Espírito Santo.
"Na época, eu pedi para o meu gabinete fazer um ofício informando ao presidente da Câmara (deputado Luís Eduardo Magalhães) que havia grampo no meu telefone. Não me lembro se cheguei a mandar a correspondência." Para Rosa, o sistema telefônico da Câmara é "muito precário".

Texto Anterior: 'Lei é para o país', diz relator
Próximo Texto: Câmara pode ter varredura
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.