São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997
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Custo poderá limitar as mudanças no ensino

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tende a custar caro a proposta de flexibilização contida no documento de ontem do Ministério da Educação sobre o 2º grau.
Quanto maior a diversidade de opções que se oferece aos alunos, mais se gasta com formação e salários de professores e com a infra-estrutura das escolas.
Assim, o fator limitante das mudanças deve ser o dos recursos. E a tendência é que eles sejam reduzidos nos próximos dez anos -já que 60% das verbas da educação estão vinculadas, até 2007, ao 1º grau pelo fundão (uma emenda constitucional aprovada no ano passado).
No 1º grau, as grandes reformas têm buscado uma uniformização da oferta do ensino. Por exemplo, a "reorganização das escolas", na rede estadual de São Paulo, eliminou diferenças a mais que uma escola tivesse sobre outra -como os professores de artes da 1ª à 4ª série.
Mas a flexibilidade da proposta do MEC é tal que permite, por enquanto, que tudo continue como está. Os Estados que tiverem recursos poderão flexibilizar suas redes. Os outros, não.
Mesmo assim, há um ponto na proposta que deve incentivar a reformulação dos currículos: o reagrupamento das disciplinas.
O 2º grau hoje é caracterizado pela diversidade e fragmentação de conteúdos: português, matemática, química, física, biologia, educação física e assim por diante. Algumas escolas usam agrupamentos maiores, como exatas, humanas e biológicas.
A proposta do MEC cria três novas grandes áreas do conhecimento: códigos e linguagens (que cobre de português a informática), sociedade e cultura (que, em alguns casos, depende de noções da matemática) e ciências e tecnologias (que pode incluir história).
Sem grandes investimentos, isso introduz um conceito em moda atualmente, o da interdisciplinaridade -o que obriga as escolas a repensarem seu trabalho e cria novas relações entre os professores.
O exame de final de secundário, que o MEC experimenta no segundo semestre, deve reforçar essas mudanças curriculares.
A flexibilização do 2º grau representa, ainda, o fim da orientação dada a esse nível de ensino pelo regime militar.
A visão dos currículos dos anos 60 e 70 era de uma nação única, monolítica. A atual prega uma base comum de conhecimentos, mas permite o atendimento de clientelas diversas, com conteúdos e metodologias de ensino também diversos.

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