São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997
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120 obras comemoram os 100 anos de Di Cavalcante

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

A maior retrospectiva já feita da obra do pintor brasileiro Di Cavalcanti (1897-1976) será inaugurada no Rio no dia 6 de setembro -data em que ele completaria cem anos.
Serão expostas 120 obras, representativas de toda a sua carreira -desde os primeiros trabalhos, nos anos 20, até a tela na qual trabalhava ao morrer, em 1976, a "Obra Inacabada", que pertence ao acervo do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo.
Duas grandes instituições cariocas estão envolvidas no projeto. As 120 obras serão divididas entre o MAM do Rio e o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), ambos no centro da cidade.
No MAM ficarão cerca de 70 trabalhos, agrupados sobre o título "Di - Meu Brasil Brasileiro". Nessas obras, o pintor mostra sua paixão por temas brasileiros. Entre os trabalhos está "O Samba", de 1928, considerado um dos melhores do pintor.
No CCBB estarão expostos cerca de 50 trabalhos, tendo como tema a grande paixão de Di Cavalcanti: as mulheres. Lá estarão quadros como "Mesa de Bar", de 1929, onde Di Cavalcanti retrata Maria, sua primeira mulher.
A retrospectiva é a primeira a ser realizada desde 1971, quando foi organizada uma exposição no MAM de São Paulo. Desde então, os trabalhos de Di Cavalcanti foram apresentados apenas em pequenas exposições.
"Estamos fazendo um verdadeiro trabalho de detetive para localizar as obras de Di. Há muito tempo não se fazia uma exposição assim, e por isso não sabemos o paradeiro de muitas obras importantes", diz Denise Mattar, curadora da retrospectiva e coordenadora de artes plásticas do MAM.
Um exemplo é o quadro "Três Raças", de 1941. A obra consta de alguns catálogos sobre Di Cavalcanti -inclusive no da exposição de 1971-, mas a curadora ainda não conseguiu localizá-la.
"Estou seguindo uma pista e acho que ele está em São Paulo, com um colecionador", conta Mattar, que estará nesta segunda na cidade para tentar localizá-lo e para formalizar o empréstimo de outras obras.
A retrospectiva conta com obras do acervo de museus e colecionadores particulares. Denise Mattar diz que procurou equilibrar a exposição de maneira a dar mais ênfase aos quadros pertencentes a museus, para não torná-la uma mostra de caráter comercial.
Com o aumento dos preços dos trabalhos do artista no mercado internacional de arte, diz a curadora, seria fácil conseguir empréstimos de obras menos importantes em poder de colecionadores interessados em valorizar seu patrimônio.
"O quanto ele vale no mercado, a mim não interessa. O que eu quero é mostrar um pintor representativo da arte contemporânea brasileira", afirma Mattar.
As obras
Grandes museus como o Masp (Museu de Arte de São Paulo), o Museu de Arte Moderna da Bahia, o Museu de Arte Contemporânea da USP (Universidade de São Paulo), a Pinacoteca de São Paulo e a Fundação Castro Maya estão cedendo peças de seu acervo para a exposição.
O Masp vai emprestar o quadro "Cinco Moças de Guaratinguetá", de 1926; o MAM da Bahia, "Índia", de 1941. A Pinacoteca de São Paulo está cedendo o quadro "Casa Vermelha", de 1945, e a Fundação Castro Maya, "Casa de Mulheres", de 1962.
Denise Mattar tem ainda agendada para esta semana uma visita ao Palácio da Alvorada -residência oficial do presidente Fernando Henrique Cardoso. Lá estão duas tapeçarias de Di Cavalcanti que poderão fazer parte da exposição.
"O empréstimo das tapeçarias está praticamente assegurado. Vou lá para acertar os detalhes", diz a curadora.
Os custos de montagem da exposição, divididos entre o CCBB e a Petrobrás, não são revelados, mas a curadora admite que são elevados. Equipes de segurança serão contratadas para cuidar dos dois locais onde os trabalhos estarão expostos.
Além disso, há um cuidado especial com o transporte das obras. Uma equipe de técnicos em museologia vai acompanhar a retirada e o transporte das peças.
Para cada uma está sendo feito o que se chama de "condition report" -um relatório onde todas as características e o estado de conservação da obra são anotados.
"Estamos fazendo uma exposição cara, à altura do que Di merece", afirma Mattar.
As exposições do MAM e do CCBB serão inauguradas no mesmo dia, com intervalo de uma hora. A intenção de Denise Mattar é transformar a abertura -que acontece em um sábado-, numa festa popular. "Di amava o Rio, e a cidade deve fazer uma festa para receber seus trabalhos", disse.
Depois da temporada no Rio, uma versão reduzida da exposição será apresentada na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo, a partir de janeiro.

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