São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Pesquisa diz que vida no interior é melhor

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Empiricamente, a vida no interior paulista parece melhor do que na capital. Basta lembrar dos congestionamentos e da violência na metrópole. Agora, porém, a vantagem interiorana pode ser comprovada estatisticamente.
A Pesquisa de Condições de Vida (PCV) mostra que os paulistanos têm uma pior distribuição de renda, moram em piores condições e perdem mais tempo para ir ao trabalho do que o resto dos paulistas.
A coleta dos números foi feita pela Fundação Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados) ainda em 1994, mas o resultado da pesquisa, só divulgado agora para todas as regiões do Estado, é atual.
"O impacto da reestruturação do mercado de trabalho tem sido maior na capital do que no interior, aumentando a precarização", afirma Pedro Paulo Martoni Branco, diretor-executivo do Seade.
Isso se traduz na diminuição do número de assalariados com carteira assinada e no aumento dos autônomos. "Para a maioria, há uma piora da qualidade de vida: seus gastos aumentam e a renda continua a mesma", completa.
A maior parte desses empregos extintos estava na indústria. Isto é: à medida que as empresas migram para as cidades do interior (melhorando as coisas lá), o processo de degradação das condições de vida do paulistano aumenta.
Assim, não é de espantar o fato de São Paulo ser uma das cidades com maior concentração de renda no mundo: os 5% mais ricos dos paulistanos ganham 44,2 vezes mais do que os 5% mais pobres.
Para se ter uma comparação, no Brasil, campeão mundial de concentração de renda, os 20% mais ricos tem uma renda 32 vezes maior do que os 20% mais pobres.
Nenhuma região do interior paulista chega perto da concentração de renda paulistana. Na média, a relação é de 27,5 para 1.
"São Paulo produz mais riqueza e concentra as empresas que pagam os melhores salários para seus executivos. Porém, os salários mais baixos não são muito maiores do que os do resto do país", explica Martoni Branco.
A capital oferece benefícios como nenhuma outra cidade brasileira, mas cobra caro por isso.
"Para ter acesso a um bom apartamento e às melhores escolas é preciso ter uma renda muito alta", lembra o diretor do Seade. Em outras palavras, o rico vive melhor na capital, mas o paulista médio tem melhores condições no interior.
Isso pode ser medido pelas moradias. Na cidade de São Paulo, apenas pouco mais de metade da população (55%) mora em apartamentos ou casas isoladas. No interior, esse percentual chega a 77%.
Parcela significativa dos paulistanos mora em favelas (6,2%), em cortiços (4,6%) ou em casas que dividem o mesmo terreno com outras moradias. Cerca de 24% das famílias se amontoam em habitações com até três cômodos -o dobro do que ocorre no interior.
Fora de casa, a situação dos paulistanos não é melhor. Há três anos, 42% já demoravam mais de meia hora para chegar ao trabalho. Fora da região metropolitana, essa perda de tempo não atinge, em média, mais do que 22% da população.
Mais estresse no trânsito e em casa pode ser uma das explicações para a maior necessidade de assistência médica. Dos moradores da Grande São Paulo pesquisados em 1994, 28,1% tinham procurado um médico no mês anterior, contra 25,8% do resto dos paulistas.
A única vantagem comparativa dos paulistanos aparece na educação. Chegaram mais ao segundo grau (20,8% contra 20%) e ao curso superior (13,9% contra 12,3%) do que os seus conterrâneos interioranos.
Também há menos analfabetos na capital. São 5,8% na cidade e 6,3% no interior.

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