São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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O alerta tailandês

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A desvalorização do baht tailandês é mais um exemplo de como a defasagem cambial por si só provoca problemas graves. A crise na Tailândia serve como sinal de alerta ao Brasil, pois a vulnerabilidade nas contas externas é parecida nos dois casos.
O caso da Tailândia repete alguns fatores clássicos que, cedo ou tarde, resultam em crise cambial. Se olharmos apenas os indicadores de crescimento e de investimentos estrangeiros no país, parece difícil entender o que ocorreu.
Isso porque a Tailândia cresceu mais de 8% ao ano nos últimos anos e os investimentos externos foram elevados, tanto na Bolsa quanto em privatizações e em imóveis. A inflação manteve-se baixa e o déficit público estava contido em menos de 3% do PIB. A taxa de investimento estava elevada, acima de 25% do PIB, e as reservas internacionais eram altas. O único problema parecia ser o déficit em conta corrente de 7,5% do PIB, causado pela taxa de câmbio apreciada, vinculada ao dólar.
Com a apreciação do baht, as exportações pararam de crescer (o país exporta cerca de um terço do PIB), o endividamento externo cresceu e os indicadores de serviço da dívida sobre exportações ou pagamentos de juros líquidos mais remessas de lucros sobre exportações passaram a se deteriorar.
Na semana passada comentei nesta coluna como esses indicadores são usados pelos analistas internacionais para avaliar se as contas externas são sustentáveis. No caso tailandês, a relação juros mais lucros remetidos/exportações havia ultrapassado a marca crítica de 25%, indicando vulnerabilidade.
Assim, a moeda local passou a ser alvo de especulação. Em maio passado, houve uma primeira corrida que comprometeu parte das reservas externas. Entretanto, havia analistas que apontavam que essas reservas ainda estavam em US$ 30 bilhões e, portanto, não haveria desvalorização.
Não atentaram para o fato de que parte dessas reservas foi vendida ao mercado de câmbio futuro para defender o baht. Ao ver que a situação de caixa estava precária para os próximos meses, o banco central foi forçado a mudar para uma "flutuação gerenciada" que resultou na desvalorização de 20%.
A desvalorização do baht e a elevação dos juros dificultarão a vida das empresas que se endividaram em dólares e tornar parte dos ativos bancários inoperantes, além de ser um fator de desequilíbrio nas contas públicas. Boa parte dos recursos externos que ingressaram na Tailândia foi aplicada em imóveis, que agora não terão compradores. A crise bancária poderá trazer prejuízos maiores para a economia.
O alerta para o Brasil é evidente. A relação juros líquidos/exportações está quase em 24% em 97, mas parece que vamos deixar o problema para o futuro.

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