São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Krugman 'previu' crise do tigre tailandês

EDITOR DE DINHEIRO

Krugman 'previu' crise do triste tigre tailandês
OSCAR PILAGALLO
A crise cambial da Tailândia, deflagrada nesta semana, com a desvalorização de 20% de sua moeda, o baht, após o governo ter decidido permitir sua livre flutuação, chamou a atenção do mundo para um modelo econômico -o dos "tigres asiáticos"- que, no auge de seu prestígio, nos anos 80, quando as taxas de crescimento eram exuberantes, chegou a ser considerado paradigmático.
A Tailândia é, por assim dizer, da segunda geração dos "tigres".
A primeira, que experimentou forte expansão a partir dos anos 60, era constituída pela Coréia do Sul, Taiwan, Honk Kong e Cingapura. Mais tarde, nos anos 70, juntaram-se ao clube, além da Tailândia, a Malásia, China e Indonésia.
Como o tamanho médio das primeiras quatro economias foi multiplicado por oito num período de 15 anos (até 1985) -segundo Jim Rohwer, autor do livro "Asia Rising", sobre o desenvolvimento da região-, começou a ganhar corpo no Ocidente a tese de que os líderes asiáticos haviam descoberto o segredo do sucesso econômico, cuja fórmula poderia ser aplicada em qualquer lugar do mundo.
A tese, que sempre teve seus críticos, foi desmontada por Paul Krugman, professor de economia na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em seu livro "Internacionalismo Pop", lançado no Brasil pela editora Campus.
O argumento de Krugman centra-se no fato de que, não fosse o ambiente político predominante no Sudeste Asiático -onde os valores democráticos não são caros-, o modelo econômico não se aguentaria em pé. Daí ser impraticável no Ocidente.
Krugman chega a comparar a industrialização da Ásia à da União Soviética dos anos 50, o que, exagero à parte, ressalta o aspecto comum dos dois processos, que é uma expansão baseada na imensa mobilização de recursos humanos e materiais -e não no aumento da eficiência.
Diz Krugman: "Vários dos 'tigres' do Leste Asiático tornaram-se recentemente significativos exportadores de capital. Esse comportamento seria estranhíssimo se essas economias, que ainda pagam salários bem abaixo dos níveis dos países avançados, estivessem rapidamente alcançando uma produtivade de país avançado. Entretanto, é perfeitamente explicável se o crescimento no Leste Asiático baseou-se primordialmente no crescimento de insumos e se o capital estiver começando a render retornos decrescentes".
A explicação de Krugman vai à raiz do problema enfrentado pela Tailândia, do qual a crise cambial é apenas seu reflexo mais visível.
Para o autor, "o entusiasmo popular com o boom asiático merece uma ducha de água fria. O rápido crescimento asiático não é modelo para o Ocidente que tantos autores alegam, e as perspectivas futuras desse crescimento são mais limitadas do que se imagina".
No mercado financeiro, a aposta é que nos próximos dois anos a Tailândia vai crescer no mesmo ritmo do Brasil, o que nem é preciso ser comparado com as taxas de dois dígitos que chegou a exibir para ser considerado pouco.
A projeção de crescimento da Tailândia neste ano, segundo o JP Morgan, banco de investimento norte-americano, é de apenas 3%, devido ao impacto recessivo da crise cambial.
Com a elevação dos juros básicos, necessária para defender a cotação do baht, a expectativa é que no próximo ano a expansão poderá ser ainda mais modesta.

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