São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997 |
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Tecnologia reduz vagas, diz Rifkin Economista vê solução em ONGs SILVANA QUAGLIO
A tese é do economista norte-americano Jeremy Rifkin, 52. Na semana passada, ele discutiu "O Brasil Que Queremos" em debate da Confederação Nacional do Transporte, em São Paulo. O economista desconfia da flexibilização das regras trabalhistas e prevê maior participação das mulheres no mercado de trabalho. * Folha -O que o sr. acha da flexibilização das regras trabalhistas como forma de aumentar empregos e reduzir custos de produção? Jeremy Rifkin - Flexibilidade é bom, mas não pode virar eufemismo para exploração de trabalhadores. Flexibilidade vale para todos: empresários, empregados, comunidades e partidos políticos. Folha - Logo não haverá empregos como os que conhecemos? Rifkin - Assim como a Revolução Industrial acabou com o trabalho escravo, a Era da Informação acabará com o emprego em massa, assalariado. A Era da Informação requer apenas uma elite trabalhando com a tecnologia. Folha - Não serão criados outros tipos de emprego? Rifkin - Sim, mas não o suficiente para toda a força de trabalho que chega ao mercado. Será a época do subemprego. Folha - Isso se aplica ao Brasil, onde metade da população economicamente ativa trabalha sem vínculos oficiais? Rifkin - A sobrevivência no mercado informal pressupõe nível de troca e negociação muito grande -um sobrevive em função da boa vontade do outro. Essa é a base necessária para transformar o terceiro setor em força social. Folha - Que futuro o sr. está vislumbrando? Rifkin - Depende do país. No Brasil, em 25 anos, menos de 2% da força de trabalho atual estará empregada em fábricas e a capacidade de produção será muito maior. A questão é como distribuir os frutos dessa produção mantendo a capacidade de consumo da maioria. Folha - Qual é a sua impressão? Rifkin - A revolução tecnológica pode levar a duas situações: um cenário triste, desestabilizado, com hordas de desempregados e levantes sociais; ou uma nova renascença, que libertaria do trabalho algumas gerações do século 21, apenas porque seu trabalho não será necessário. Isso é menos trabalho, mais lazer. Folha - Como chegar a essa renascença? Rifkin - Primeiro, temos de pensar no que fazer com os jovens. Depois, debater a divisão dos ganhos da tecnologia beneficiando todos e mantendo a produção competitiva. A saída está no terceiro setor -as associações de bairro, as organizações não-governamentais, a Igreja. Folha - Como o terceiro setor pode 'salvar a Pátria'? Rifkin - Além de fortalecer a cidadania, deverá criar empregos pagos. E se tornará uma força política. Haverá menos governo, pois os Estados estão se minimizando, e menos empresas, principalmente geograficamente, já que a Internet as leva a qualquer lugar. Folha - O que vai financiar o terceiro setor? Rifkin - Incentivos fiscais e parcerias com a iniciativa privada, que não produzirá empregos, mas continuará produzindo riqueza. Folha - Só isso basta? Rifkin - Não. É preciso um contrato social com redução da jornada de trabalho para evitar a marginalização do trabalhador. Novas tecnologias criam oportunidades, mas mudam as relações de poder. Folha -O sr. quer dizer que a tecnologia não é neutra? Rifkin - Sim. Tecnologia é poder -há alguém dominando, expropriando o máximo no menor tempo possível. Folha - E como criar esse contrato social? Rifkin - O que fizemos depois da Segunda Guerra Mundial não foi obra da mão invisível do mercado. Houve organização do trabalhador em sindicatos. Agora é a vez da negociação. Folha -Reduzir a jornada de trabalho sem diminuir o salário não aumenta custos? Rifkin - O trabalhador tem de ser visto pela empresa como cliente que consome e investe. Os fundos de pensão privados têm US$ 8 trilhões no mundo. A relação patrão/empregado tem de sair do "eu ganho você perde". A Hewlett Packard da França reduziu a semana de trabalho para quatro dias, negociando com o sindicato. E continuam ganhando dinheiro. Folha - Haverá mudanças também na participação de homens e mulheres no mercado de trabalho? Rifkin - Nesse mundo, mais mulheres trabalharão em empregos formais. Os homens se voltarão mais para as comunidades. Folha - Por quê? Rifkin - Sobretudo em níveis baixos da produção, a regra é trabalhar junto. A mulher leva vantagem pois sabe ser consensual. Texto Anterior: Presidente do Cade critica "xenofilia" Próximo Texto: A travessia com risco (mal) calculado Índice |
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