São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Freud explica

JUCA KFOURI

Zagallo volta à carga, agora em desequilibrada entrevista à "Isto É".
Não cita nomes de jornalistas "para não dar cartaz", mas deixa claro que seu alvo preferencial é este colunista.
Nosso técnico anda precisando de um terapeuta (algo recomendável para todos), pois está sofrendo de inexplicável crise de insegurança.
Ele atribui minhas críticas à perseguição ideológica desde 1970 -quando eu apenas iniciava minha carreira e nem sequer tinha espaço na imprensa, coisa que só passei a ter em 1979, na "Placar".
Então, Zagallo nem era mais o técnico da seleção.
O "maior vencedor da história do futebol", como se autodenomina (supera até o rei Pelé, cinco vezes campeão mundial, quase 1.300 gols, "Atleta do Século" etc...), acha que eu quero derrubá-lo, como se eu tivesse força para tanto, como se Rico Terra se deixasse levar por minhas opiniões, como se eu tivesse essa importância.
Talvez, na verdade, o que doa em Zagallo, e aí ele acusa o golpe, é ver aqui a história contada como se deu.
Ele conta suas vitórias, eu relembro suas derrotas. Ele atribui a si coisas que não fez, eu digo quem as fez. Ele acusa árbitros de prejudicar o Brasil, mas cala diante dos que, em maior número, ajudam.
Zagallo não foi campeão brasileiro, da Libertadores ou Mundial de clubes nem como jogador nem como técnico. Mesmo assim, aqui, foi comparado, em 1995, a Nelson Rodrigues, um velho revolucionário. Só que, depois, recaiu em sua arrogância.
Jogou no Flamengo de Dida -e a torcida rubro-negra preferia o ponta-esquerda Babá-, no Botafogo de Garrincha, Didi, Nílton Santos, na seleção de Pelé, Mané, sempre coadjuvante -e olhe que eu admirava seu esforço.
Foi técnico da seleção de Saldanha -a dele mesmo perdeu feio em 1974, como perdeu os Jogos Olímpicos de Atlanta, depois que o time de Parreira ganhou o tetra.
E isso tudo dói, mexe com quem é inseguro a ponto de se sentir incomodado com as críticas de alguém que não tem a menor importância, a não ser para a sua família e para alguns leitores e telespectadores (ah, sim, Zagallo fica roxo de raiva com o "Cartão Verde").
O rancor do vovô Lobo pode envenená-lo e, aí, engoli-lo poderá trazer graves prejuízos à saúde nacional.
Pior: se o talento do jogador brasileiro ganhar o penta, é capaz de ele explodir mesmo, algo que ninguém deseja.

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