São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Dados levantados pela Pathfinder levarão anos para ser analisados

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Marte já foi um planeta úmido e quente. Tentar entender por que o planeta vizinho da Terra deixou de ser assim é um dos objetivos de sondas como a Mars Pathfinder -e as respostas poderão ajudar as próximas gerações humanas a "terraformar" Marte, transformando-o em um local passível de colonização.
Sondas espaciais produzem quantidades enormes de informações, como imagens e medidas de dados físico-químicos, que levam anos para serem analisados. Ainda hoje os cientistas não esgotaram as possibilidades de novas descobertas a partir das informações coletadas pelas sondas da década de 70, como a Mariner 9 ou as duas Vikings americanas.
Uma das descobertas recentes se refere ao próprio relevo da superfície marciana, que no passado fez vários astrônomos que observavam Marte por telescópicos imaginarem que haveria "canais" no planeta.
O italiano Giovanni Virginio Schiaparelli (1835-1910) observou essas marcas na superfície marciana, e outros pesquisadores chegaram a associá-las à vida, como se os "canais" tivessem sido obra de engenheiros marcianos.
As imagens das sondas mostram que os "canais" podem ter tido água no passado. As fotos da superfície de Marte lembram terrenos que foram minados por águas subterrâneas (como um buraco que surge em uma rua onde um cano estourou).
Essas características da superfície do planeta voltaram a ser lembradas depois que a Nasa fez alarde sobre a hipótese de ter existido vida ali. Onde havia água, formas de vida poderiam ter surgido no passado. Não seria vida muito sofisticada, lembrando as bactérias terrestres.
A água em Marte não seria suficiente para haver chuva. O calor antigo do planeta não seria originário de um efeito estufa. A água marciana se renovaria nos vales e canais provavelmente graças ao calor do solo.
Bombardeio
A existência ou não de água corrente e de vida em Marte são exemplos da complexa dinâmica do Sistema Solar.
Há indícios de que teria havido um episódio marcante de bombardeios por meteoros entre 3,8 bilhões e 4 bilhões de anos atrás, que teria afetado planetas como a Terra e Marte. As marcas desse bombardeio são visíveis hoje nas crateras da Lua.
Graças a esse bombardeio, pedaços dos planetas teriam sido lançados ao espaço. É por isso que os cientistas acreditam ter achado meteoritos marcianos na Terra, dentro dos quais se esconderiam os resquícios de vida semelhante a antigas bactérias que a Nasa disse ter encontrado.
Um problema seria como determinar a origem espacial desses meteoritos. A Antártida é o melhor local para achá-los, pois estão em pontos onde não houve poluição por seres humanos ou atividade geológica marcante.
Mas, para confirmar se são de fora, foi preciso que missões espaciais obtivessem dados sobre a Lua e sobre outros planetas. Foi possível por exemplo comparar o ar preso nos meteoritos com o que se descobriu sobre a atmosfera marciana pelas sondas Viking. Mais uma vez, a Pathfinder vai ajudar muito nesse tipo de pesquisa.

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