São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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Os balões de ensaio

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - As recentes declarações intempestivas de Sérgio Motta -desculpem-me pelo pleonasmo- sobre fazer um plebiscito para aprovar uma reforma política são apenas um dos infinitos balões de ensaio que alçarão vôo daqui para a frente.
O prazo mais ou menos definido para essas brincadeiras acabarem é outubro. É nesse mês que deve prescrever o prazo para a traficância de deputados de um partido para o outro.
A partir de outubro, os políticos terão de estar filiados à legenda pela qual disputarão novos mandatos.
Outubro também marcará o cenário político com outros dois fatos.
Primeiro, o início da campanha eleitoral. Os políticos passarão a se ocupar só com o pleito do ano que vem.
Segundo, a atual legislatura no Congresso deverá pendurar as chuteiras. Ficarão enterradas as chances de reformas profundas. Tudo fica para 99.
Por conta disso, o governo e seus aliados passaram a soltar as mais estapafúrdias opiniões sobre como reformar a Constituição.
Não falam aquilo que desejam de fato. Apenas pronunciam em público as sugestões sobre as quais divagam de forma inconsequente em privado.
A idéia é testar essas divagações. O governo quer encontrar uma saída para o presidente. Afinal, depois de outubro, ficará insustentável para FHC sair em campanha sem propor alternativas reais de reforma da Constituição num eventual segundo mandato.
Nesse contexto podem ser relacionadas as reformas administrativas, econômicas e políticas.
Com o discurso atual -"vamos pedir ao Congresso para apressar as votações"-, FHC não satisfaz os mais caros aliados de campanha: empresários e investidores estrangeiros.
Até o sempre pronto a curvaturas de espinha Moreira Ferreira, da Fiesp, anda resmungando pelos cantos.
Em resumo, FHC deseja mudar a Constituição de uma forma, digamos, heterodoxa. Mas ainda não formou juízo sobre a melhor maneira de executar mais essa ação que garanta os 20 anos de poder para os tucanos.

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