São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Modelo cambial torna países vulneráveis

SÉRGIO LÍRIO
MAURICIO ESPOSITO

SÉRGIO LÍRIO; MAURICIO ESPOSITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para especialistas, câmbio fixo ou ajustável ao dólar aumenta possibilidade de ataque especulativo

A recente crise cambial no Sudeste Asiático mostra que o modelo econômico adotado pelos países emergentes torna essas economias vulneráveis a ataques especulativos.
A paridade com o dólar ou a criação de bandas cambiais, intervalo de flutuação da moeda controlado pelo governo, são os modelos que tem sustentado a estabilidade econômica nos países emergentes. O Brasil, por exemplo, adota o sistema de bandas cambiais.
Para o economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da Fundação Getúlio Vargas e colunista da Folha, essas políticas estão condenadas, por causa da evolução das finanças internacionais.
Segundo ele, a tendência mundial nos últimos 20 anos é a substituição desses modelos por "flutuações administradas", em que os países liberam o câmbio, mas mantém um monitoramento sobre ele.
Batista Jr. acha que o Real não corre riscos de sofrer um ataque especulativo imediato, mas diz que a política cambial brasileira não pode ser sustentada indefinidamente.
"Mais cedo ou mais tarde o governo terá que mudar o sistema. E o Brasil terá que fazer uma transição de maneira organizada para a flutuação, se quiser evitar ataques especulativos", analisa.
O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega também acredita que os modelos cambiais com intervenção estatal não podem ser sustentados por muito tempo.
Ele diz, no entanto, que o Brasil não pode alterar sua política cambial antes de realizar um ajuste das contas públicas.
Insustentabilidade
O economista Luiz Gonzaga Belluzo também acredita que a desvalorização da moeda filipina é mais um motivo de preocupação para os mercados emergentes.
"A sucessão desses episódios demonstra que não é sustentável manter déficits em conta corrente associados a uma taxa de câmbio valorizada por muito tempo", diz.
No início de julho, o baht (moeda da Tailândia) sofreu desvalorização abrupta de 20% pelo mesmo motivo.
Na sexta-feira, como reflexo da desvalorização do peso filipino, a Indonésia aumentou sua banda cambial.
A desvalorização de sexta-feira do peso filipino foi provocada pela expectativa de uma elevação nas taxas de juros do mercado japonês, disse o superintendente de estudos econômicos do Banco Pontual, Carlos Guzzo.
Em sua opinião, os recentes movimentos do câmbio no Sudeste Asiático devem ser acompanhados com atenção pois as políticas econômicas dos mercados emergentes têm sido semelhantes.
"O Brasil tem que manter o atual patamar de reservas internacionais e monitorar o desempenho do déficit em conta corrente, tentando melhorá-lo por meio de aumento das exportações", avalia.
Além disso, as taxas de juros no mercado brasileiro terão que continuar atrativas para o capital estrangeiro, mesmo com a atual liquidez no mercado internacional.

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