São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Consórcios já esperavam a vitória do BCP

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Os principais consórcios que disputam as concessões para a telefonia celular privada -banda B- no Brasil esperavam, desde abril, a vitória do consórcio BCP (BellSouth, Banco Safra, Oesp, que edita o jornal "O Estado de S. Paulo", e Splice do Brasil) na Grande São Paulo.
Há dois meses, circulava a informação, sempre negada pelo consórcio, de que o BCP iria oferecer cerca de R$ 2,2 bilhões pela concessão na capital paulista.
Os adversários consideravam o valor exorbitante, mas não se assustaram quando os envelopes foram abertos e o BCP ganhou com a oferta de R$ 2,6 bilhões.
Há três anos, a dupla BellSouth/Safra -líder do consórcio BCP- já havia surpreendido as grandes empresas mundiais de telecomunicações ao vencer a concorrência para a banda B em Israel.
O governo israelense, ao contrário do brasileiro, não cobrou pela concessão e ganhou o consórcio que se comprometeu a cobrar a menor tarifa do usuário.
A banda B, naquele país, era explorada pela Bezek (telefônica de Israel) em sociedade com a norte-americana Motorola. A ligação local pelo celular custava, então, US$ 0,40 por minuto.
BellSouth e Safra se associaram ao Discount Bank (de Israel) e ganharam a licitação com uma proposta considerada absurda pelos adversários: US$ 0,03 por minuto nas ligações locais.
Por ser um país pequeno, todas as ligações dentro de Israel são consideradas locais. Não há tarifa diferenciada para interurbano. No dia em que o serviço foi inaugurado, formaram-se filas em Tel Aviv.
A tarifa proposta pelo consórcio em Israel equivale a um décimo da proposta (R$ 0,30 por minuto) para as chamadas locais na Grande São Paulo.
Roberto Peón, presidente da BellSouth para a América Latina, diz que os dois casos não são comparáveis. Em primeiro lugar, diz ele, o governo brasileiro, tal como vem fazendo o norte-americano, cobrou pela concessão.
Em Israel, segundo Peón, o governo fez uma espécie de "leilão reverso". A Cellcom -operadora da banda B na qual Safra, BellSouth e Discount Bank participam igualmente com um terço do capital- não pagou pela concessão no primeiro momento, mas está pagando agora.
A tarifa, que começou com US$ 0,03 por minuto, está em US$ 0,14, mas o governo conseguiu o que queria. Segundo Peón, um quarto dos israelenses tem telefone celular. O índice é comparável ao da Suécia, país mais bem servido em telefonia do planeta.
Roberto Peón diz que o consórcio BCP apostou alto não só na concorrência para a Grande São Paulo. "Estávamos muito competitivos em outras áreas." Com a vitória da capital paulista, o consórcio fica excluído das demais licitações para as regiões Sul e Sudeste.
Ao ser questionado se a tarifa para as ligações locais não estaria muito alta -R$ 0,30, contra R$ 0,27 por minuto, sem impostos, cobrado pela Telesp- Peón afirmou que o consórcio BCP fez uma pesquisa junto aos clientes potenciais e concluiu que eles consideram mais importante a redução do preço da habilitação.
Partindo dessa pesquisa, o BCP propôs um preço de habilitação de R$ 230,00 (sem impostos), contra R$ 330,00 cobrados pela Telesp. O valor da assinatura mensal (R$ 27,00) foi igual ao da Telesp.
Apesar do alto preço pago pela concessão, o BCP tem indicadores que mostram que o Brasil pode ser um verdadeiro Eldorado para as operadoras da banda B. Enquanto o norte-americano fala 88 minutos por mês ao celular, o brasileiro fala 200 minutos.

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