São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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PF diz que Pitta pagou Vectra com dólar

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Yasha Moghrabi, suposto doleiro preso anteontem em São Paulo, afirmou à Polícia Federal que o prefeito Celso Pitta (PPB) pagou em dólares o Vectra comprado no ano passado.
Moghrabi disse que recebeu US$ 30 mil de uma pessoa "relacionada" a Pitta para pagar o carro.
Ele se negou a revelar o nome do intermediário que afirmou ter agido em nome de Pitta. A negativa foi uma das principais causas de sua prisão.
Segundo a Folha apurou, Moghrabi afirmou que foi orientado por essa pessoa a converter os US$ 30 mil em reais e a depositá-los em uma determinada conta, a da concessionária Autoglobal Automóveis Ltda. -onde foi comprado o Vectra de Pitta.
Como teria R$ 30 mil a receber de um empréstimo feito a João Ribeiro da Silva, dono da Comercial Distribuidora Photography Ltda., Moghrabi preferiu pedir a ele que fizesse o depósito na conta preestabelecida.
Silva confirma que depositou o cheque na conta da concessionária como parte de uma operação de "factoring" (empréstimo), por indicação de Moghrabi.
Na avaliação da PF, o suposto doleiro não esperava que o comerciante quitasse a dívida com um cheque de sua própria empresa, o que facilitaria um rastreamento.
Desde que a compra do carro foi divulgada, Pitta vem afirmando que o pagamento do veículo foi feito em dinheiro. Mas, em seu depoimento à PF, na segunda-feira, o gerente da Autoglobal, Bento Ribeiro, declarou que o pagamento do carro foi feito em cheque.
Além disso, a Receita Federal constatou que, no dia 31 de maio de 96, a única entrada de R$ 30 mil na contabilidade da concessionária corresponde a um cheque da Photography.
Na avaliação da PF, as características da negociação -que demonstram "confiança" entre o prefeito e o suposto doleiro- indicam que a operação envolvendo o carro não deve ter sido o primeiro contato entre as partes.
Split na agenda
Moghrabi foi autuado em flagrante anteontem sob a acusação de prática de crime do colarinho branco, agiotagem, sonegação fiscal e evasão de divisas.
Em diligências em seu escritório e em sua casa, a polícia descobriu cheques de terceiros em circunstâncias que, segundo a PF, caracterizariam empréstimos a juros.
Também foi encontrada uma agenda com telefones de contatos no exterior e US$ 200.
Entre os números de telefone, estava o da Split, de propriedade de Enrico Picciotto. Segundo a CPI dos Precatórios, a Split era peça-chave no esquema de compra e venda irregular de títulos públicos.
A polícia descobriu ainda documentos que indicariam remessa de valores a vários paraísos fiscais, incluindo um comprovante de depósito no valor de US$ 180 mil, em nome do próprio Moghrabi, no Banco Aliado, do Panamá.
Faturas da empresa Federal Express, especializada no envio de documentos e valores ao exterior, foram encontradas no escritório.
As remessas descritas nesses papéis tinham Moghrabi como remetente e bancos estrangeiros -em Nova York (EUA), na Flórida (EUA), em Curaçao (Caribe) e na Suíça, entre outros- como destinatários.
Contas telefônicas, recolhidas no local, também serão checadas. Todo o material foi apreendido. Já existe um inquérito na PF para investigar os negócios de Moghrabi.
O advogado do suposto doleiro, José Roberto Leal de Carvalho, disse à Folha, na sexta-feira, que seu cliente realiza trabalhos na área de "intermediação". "Ele compra e vende em vários ramos. O que puder intermediar, ele faz."
Investigando o Vectra comprado pelo prefeito, em 31 de maio de 1996, a Receita Federal constatou que o carro foi pago com um cheque de R$ 30 mil.
O custo total do veículo, adquirido na Autoglobal, foi de R$ 35 mil. Os R$ 5.000 restantes foram pagos com um automóvel usado.
A PF não descarta a hipótese de "convidar" o prefeito Celso Pitta a prestar esclarecimentos sobre o caso.

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