São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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Chirac e Jospin se chocam pela 1ª vez

MARTA AVANCINI

Após um mês e meio "coabitação", o premiê francês, Lionel Jospin, e o presidente Jacques Chirac tiveram ontem seu primeiro desentendimento.
A causa foram críticas feitas por Chirac ao governo de Jospin em entrevista à TV francesa na segunda-feira. O presidente classificou algumas medidas adotadas pelo socialista Jospin de "retrógradas".
Chirac também declarou que tem o direito de dar a "última palavra" em questões que considerar convenientes, usando como base a Constituição.
A resposta de Jospin veio também com base na Constituição e na forma de um texto lido ao final da reunião do Conselho de Ministros. A avaliação de Jospin é que Chirac avançou excessivamente nas tarefas que atribuiu a ele próprio.
Para Jospin, o tom crítico e combativo de Chirac foi entendido como uma recusa em aceitar a derrota da direita (bloco político ao qual pertence) nas eleições legislativas do mês passado.
Catherine Trautmann, porta-voz do primeiro-ministro, disse que Jospin tomou a palavra para demarcar a "responsabilidade institucional" de cada um com base nos artigos 20 e 5º da Constituição.
O artigo 20 diz que o premiê determina e conduz a política da nação. O artigo 5º diz que o presidente é responsável por garantir o cumprimento da Constituição.
A porta-voz de Chirac, por sua vez, afirmou que o presidente mantém o desejo de uma "coabitação construtiva", mas fez uma ressalva: "O presidente vai continuar a se dirigir aos franceses quando julgar necessário e a dizer o que pensa das questões que dizem respeito ao futuro da França".
O termo coabitação é usado na França para designar as situações em que o primeiro-ministro e o presidente da República pertencem a blocos políticos diferentes.
Finanças
Lionel Jospin reúne hoje sua equipe para discutir medidas de ajuste que possibilitem melhorar o estado das contas públicas. A reunião ocorre quatro dias antes da divulgação do resultado da auditoria pedida pelo primeiro-ministro.
Estimativas extra-oficiais apontam um déficit de pelo menos 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
Esse desempenho pode impedir a França de participar da primeira fase de unificação monetária européia em 99. Um dos critérios é a manutenção do déficit público em no máximo 3% do PIB.
Dominique Strauss-Kahn, ministro das Finanças, não descarta o aumento do chamado "imposto sobre as sociedades", cobrado de pessoas jurídicas já a partir de 97.
Além disso, para chegar aos 3% o governo terá de fazer economias da ordem de US$ 6 bilhões.
Strauss-Kahn também anunciou ontem que o governo deixará de ser o acionista majoritário da empresa do setor de defesa e multimídia Thomson. O governo tem 58% das ações da empresa e suspendeu sua privatização, semana passada.

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