São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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A FEBRE E A BOLSA

A recuperação ocorrida ontem nas Bolsas brasileiras é um sinal tranquilizador, que ajuda a fazer uma separação entre o nervosismo típico de mercado e os problemas de fundo enfrentados pela economia.
Mercados financeiros, por definição, têm um componente especulativo. O fato de as Bolsas terem recuperado ontem as perdas ocorridas no dia anterior pode ser visto, ao menos parcialmente, como produto desse jogo especulativo, ainda mais se se considerar que, entre um dia e outro, não houve fatos relevantes que justificassem oscilações tão grandes.
É importante lembrar que esta mesma quarta-feira foi marcada, no mundo todo, por recordes de alta nas cotações das Bolsas, em Frankfurt, Paris, Londres e Nova York. Em um mundo interligado como o atual, é inevitável que os humores externos contaminem o mercado brasileiro.
Feita essa constatação, não cabe desprezar o fato de que o elevado déficit das contas externas brasileiras também desempenhe um papel importante na conjuntura.
Ainda mais depois que países com problemas até certo ponto semelhantes (República Tcheca, Tailândia, Filipinas e Indonésia, na ordem cronológica) tiveram de alterar suas políticas cambiais ante a ofensiva contra suas moedas promovidas pelos mercados financeiros.
As oscilações nas Bolsas não podem, como é óbvio, constituir o único indicador da saúde econômica de um determinado país. Seria um total despropósito entrar em pânico porque as ações caíram em um dia ou baixar a guarda apenas porque elas voltaram a subir no dia seguinte, na mesma proporção da queda.
As Bolsas captam, bem ou mal, uma porção de sinais emitidos tanto pelo corpo econômico do país como pelos interesses dos investidores. As contas externas, por sua vez, são uma espécie de termômetro, que mede uma febre precisamente localizada. E é inegável que o termômetro registra no Brasil uma febre que pode ser sinal de uma infecção mais grave.

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