São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Cantada de amiga gay surpreende mulheres

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Levar uma cantada de outra mulher era algo que elas jamais tinham cogitado.
"Eu era adolescente quando fui cantada pela primeira vez por uma mulher", diz a gaúcha Patrícia Salgado, 26, que se lembra de pelo menos três outras abordagens do tipo (leia depoimento ao lado).
A menina que tentou abordá-la na adolescência era sua melhor amiga no colégio.
"Ela gostava de usar calças largas e caindo, como as de alguns meninos. Pensava que fazia isso para esconder que era gordinha. Hoje eu vejo que ela era um tipo clássico de lésbica."
Patrícia conta que tinha um namorado na época e fazia confidências sobre ele com a amiga.
"Ela dizia que também estava apaixonada. Um tempo depois, na sala de aula, ela me passou um bilhetinho assim: 'Sabe quem é a pessoa por quem eu estou apaixonada? É você."'
Embora já não fosse adolescente, há dois anos, aos 21, a agente de beleza Roberta Garcia demorou para acreditar que uma amiga queria mais do que sua amizade.
"A menina começou a ter ciúme de mim com os caras. Um dia, me segurou pelo braço para impedir que eu conversasse com um grupo de meninos. Eu disse: 'Qual é, fofinha, tá louca?"'
Na ocasião, Roberta e a amiga desciam quase todo fim-de-semana para a praia. Ela conta que, num desses dias, a amiga tentou se aboletar na cama dela. "A gente tinha bebido além da conta e ela veio se aproveitando da situação. Fiquei sóbria rapidinho."
Roberta afirma que é muito inocente. "A gente era uma turma grande, mas eu fui a última a perceber. E olha que ela não desgrudava do meu pé", conta.
"Nas festas, eu ficava com os mocinhos e tinha de arrastá-la junto. Isso quando não ouvia absurdos tipo: 'Vamos embora já daqui!' Eu relevava, em nome da amizade, mas imagina a situação." Na parte material, a amiga protetora de Roberta dava presentes para ela e propôs cobrir um pequeno furo em sua conta bancária.
Roberta se afastou naturalmente da amiga quando se casou e teve uma filha, hoje com um ano.
"Deus me livre de mulher, meu negócio é bofe (homem)", diz.
Menos radical, mas igualmente avessa a relacionamentos com mulheres, a produtora de moda Gisela Ferrari, 32, conta que até se divertiu quando foi assediada.
"Eu estava fazendo um catálogo de moda e essa minha amiga, que por coincidência é modelo, acompanhou a produção."
"Era um tal de falar pegando em mim, e 'gata pra cá, gata pra lá', uma loucura. Eu dei corda para ver até onde ia. Quando acabou a produção, ela me deu um 'selinho' na boca de 'até logo"', diz.
O namorado de Gisela estava junto. "Ele gostou da situação, ficou todo envaidecido."
Gisela define a amiga como "G-2", em alusão ao slogan da lâmina de barbear. "Ela gosta de homens e mulheres."
Gisela acredita que "a humanidade caminha para o bissexualismo". "Dizer que eu nunca transaria com mulher não existe. Ninguém está livre disso."

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