São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juiz 'linha-dura' quer profissionalização

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Primeiro desclassificou Mike Tyson por morder as orelhas de Evander Holyfield. Depois foi a vez de Henry Akinwande, que teimava em entrar em clinche com Lennox Lewis, impedindo-o de lutar. Quem será o próximo?
"Não importa quem seja. Desrespeitou as regras? Não deixo barato", diz Mills Lane, que determinou as duas desclassificações que acirraram a polêmica entre os defensores e os opositores do boxe.
Árbitro "por hobby", Lane acha que sua função deve ser mais valorizada, inclusive em termos financeiros, para atrair "gente competente para o boxe".
O cachê de Lane, 59, na luta entre Tyson e Holyfield, em junho, foi de US$ 10 mil. Os dos pugilistas eram de US$ 30 milhões cada.
Em entrevista à Folha, por telefone, Lane analisou o atual momento do boxe e falou sobre sua vida, no esporte e fora dele.
*
Folha - Com Mike Tyson afastado por pelo menos um ano e sem grandes nomes para atrair público no momento, o que o fã do boxe pode esperar para os próximos meses?
Mills Lane - Não sei e não me preocupo. Meu problema no ringue é fazer os pugilistas lutarem e cumprirem as regras. Com o resto não posso me preocupar.
Folha - O senhor não foi pressionado por ninguém depois de ter desclassificado Tyson e, em seguida, Akinwande, os dois empresariados por Don King, o mais conhecido promotor de boxe?
Lane - Não fui, e as pessoas que me encontram nas ruas elogiam minha atitude nas duas lutas. Fiz o que deveria fazer.
Folha - Um juiz menos experiente teria agido diferente?
Lane - Não posso responder pelos outros, mas acho importante o juiz ser bem remunerado, à altura do espetáculo em que trabalha.
O boxe hoje é um negócio, e a arbitragem tem de ser profissional para atrair mais gente competente.
Folha - Ganhar US$ 10 mil para arbitrar uma luta que gera receita de pay-per-view (pague para ver) superior a US$ 90 milhões não é pouco?
Lane - Para mim, não, tudo bem, porque eu não dependo do boxe para viver, só estou no esporte por amor, mas será que tem outro louco para interromper uma luta de US$ 200 milhões?
Quanto ao futuro, aí acho que tem de mudar, sim, claro. Valorizar a arbitragem, deixar o juiz viver de boxe, os valores têm de mudar. Faz parte do processo.
Folha - A nova geração de juízes é boa?
Lane - É boa, sim. O Mitch Halpern (árbitro que iria atuar na revanche entre Tyson e Holyfield e foi substituído pelo próprio Mills Lane) é muito competente.
E esta semana vi um outro muito bom, pela TV. Era um hispânico, atuando numa luta em Nova York, agora me escapou o nome dele. Mas tem gente boa, sim.
Folha - Voltando à desclassificação do Tyson, quando o senhor o eliminou, ele ficou desequilibrado. O senhor não teve medo de levar um murro na cara?
Lane - Tudo isso faz parte do boxe, é um risco que corremos. Mas se você tem medo, procure alguma coisa mais pacata.
Folha - O que o senhor diria aos que são contra a prática do boxe?
Lane - Cito meu exemplo. Eu cheguei a lutar, não fui um bom pugilista, mas foi o boxe que permitiu que eu cursasse duas faculdades, administração e direito.
Há sete anos que sou juiz de direito de um condado de Nevada. Folha - Em Nevada, a Comissão Atlética só aponta árbitros e jurados que sejam do Estado para trabalhar nas lutas que promove. O senhor acha isso correto?
Lane - Claro, você só pode cobrar de quem pertence aos seus quadros. Não se trata de protecionismo, mas você tem que apostar e valorizar seus próprios quadros.
Folha - Seus filhos lutam boxe?
Lane - Eles ainda são pequenos, um tem 10 anos, o outro 14, e os dois preferem o beisebol.
Folha - De que outros esportes o senhor gosta?
Lane - De futebol americano e beisebol.
Folha - E de futebol?
Lane - Não conheço as regras.
Folha - O senhor conhece o boxe brasileiro?
Lane - Muito pouco. Da América do Sul, só o Carlos Monzon.

Texto Anterior: Brasil está na chave de Cuba na Copa América; Alemão aumenta a sua vantagem na França; Tênis juvenil brasileiro vale pontos em Brasília; Argentino põe título do Conselho em jogo
Próximo Texto: Conheça Mills Lane
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.