São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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'Olímpicos' ganham respeito e família

RÉGIS ANDAKU

RÉGIS ANDAKU; JOSÉ ALAN DIAS; FERNANDA PAPA
DA REPORTAGEM LOCAL

Atletas casam, têm filhos e renovam patrocínio

Até julho do ano passado, Sandra Pires saía de casa, não totalmente satisfeita, e ia encontrar a amiga Jacqueline Silva, na praia do Leblon, no Rio de Janeiro.
Talvez porque fosse típico programa no Rio entre garotas de 23 anos, Sandra não tinha o respeito que esperava dos vizinhos, e era justamente isso que a deixava insatisfeita.
Foi necessário aparecer na TV e ganhar, com a amiga, a primeira medalha feminina -e de ouro- para o Brasil em Jogos Olímpicos para que os vizinhos acreditassem que Sandra vestia biquíni e punha óculos de sol para ir trabalhar.
"Como campeã olímpica, eu finalmente ganhei o respeito que esperava dos meus vizinhos e até da minha própria família."
"Sou mais feliz hoje do que era há um ano", afirma.
Sandra sintetiza bem o estilo de vida de um restrito grupo de brasileiros que está completando um ano: o de medalhista nos Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA).
Responsáveis pela melhor campanha do Brasil em Olimpíadas, eles dizer estar bem, mais felizes, mais respeitados.
Muitos aproveitaram o embalo pós-Atlanta para investir na área em que foram premiados. São poucos -raríssimos até- os que tiveram problemas para manter seus patrocínios. Em sua maioria, a renovação foi automática.
Novos interessados em investir também apareceram.
Fala Rodrigo Pessoa, única medalha -bronze- na história do hipismo brasileiro: "Recebi uma proposta de um italiano para cuidar e preparar os cavalos dele lá. Como não queria sair de casa, fiz uma contraproposta absurda, pedi muito dinheiro mesmo. Nem assim ele recusou. Está estudando".
Conquista afetiva
Para outra parcela dos 63 premiados, a felicidade não veio só na forma de assédio e dinheiro.
Muito aumentaram a família e se dedicaram mais à vida pessoal.
"A primeira coisa que fiz quando voltei medalhista foi superar uma crise no casamento. Hoje, estou 100% feliz", diz Arnaldo de Oliveira, 34, o velocista que guarda em sua casa, no Rio, o bastão usado pelo revezamento 4x100 na conquista da medalha de bronze.
Outra "olímpica" expressiva no quesito família é Hortência. Em Atlanta, o único filho, então com cinco meses, ficava no colo do pai enquanto ela liderava a seleção de basquete a uma inédita medalha.
Com a prata já guardada em seu apartamento em São Paulo, teve outro filho, em maio deste ano.
O judoca Henrique Guimarães, desconhecido paulistano até aparecer nas TVs com uma bandeira brasileira nas costas e uma medalha de bronze no peito, casou.
E soube há um mês que vai ser pai. "O Henrique continua o mesmo, mas a minha vida mudou totalmente por causa da medalha."
Fala da ressaca olímpica o velocista Edson Ribeiro: "Depois de Atlanta-96, apareceram convites de prefeituras e empresários para conhecer cidades e dar palestras. É emocionante ver as crianças te olhando como um vencedor".
"A medalha impulsiona a carreira, fixa uma imagem e abre espaço. Altera progressivamente a vida até a próxima Olimpíada", diz Gustavo Borges, 24, agora formado em economia e que deixou as medalhas com a mãe para viajar pelo país ensinando novos atletas.

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