São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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'Maldição do ouro' ataca no exterior

Atentado, fracassos e morte rondam vencedores

RÉGIS ANDAKU
DA REPORTAGEM LOCAL

Se uma única medalha -e não precisamente a de ouro- mudou para melhor a vida de muitos atletas brasileiros, estrelas que conquistaram até duas medalhas nos Jogos de Atlanta não tiveram, necessariamente, depois da Olimpíada de 1996, sorte em dobro.
Em muitos casos, o destino, ao contrário, foi maldoso com essa famosa legião estrangeira.
"Não estou entendendo esse assédio sobre mim", afirmou, no Brasil, há duas semanas, o nadador russo Alexander Popov.
O cerco, comum a qualquer bicampeão olímpico, tinha outra dose de interesse: Popov foi esfaqueado em agosto por um vendedor de melancias em uma rua de Moscou, capital de seu país.
Mais: era sua primeira grande competição desde que recebeu alta. E perdeu para Gustavo Borges, o qual havia derrotado em Atlanta.
Um dos "campeões amaldiçoados" (veja quadro ao lado), Popov se recusou a falar sobre o atentado.
Sobre a vida depois de ser campeão olímpico: "Na verdade, você só tem noção do que significa ganhar ouro em uma Olimpíada um ano e meio depois dos Jogos".
Antes, dissera: "Se ganhar uma Olimpíada, você fica famoso. Se vencer duas, vira ídolo. Se vencer três, aí você vira parte da história".
Estrelas menores apagam
Em dois casos específicos de vida de campeões olímpicos, talvez, tenha faltado, além de sorte, talento.
Kerri Strug, a ginasta que comoveu mídia e torcedores ao competir com tornozelo machucado e praticamente garantir o ouro por equipes aos EUA, saiu de Atlanta entusiasmada com os holofotes.
Recebeu os parabéns, pessoalmente, do presidente Bill Clinton, foi convidada a festas badaladas por Bruce Willis e Demi Moore, grandes estrelas do cinema, e tentou se manter diante das câmeras e das luzes como atriz.
Mas fracassou. Nenhum papel importante, nada de destaque. Fez pontas em dois seriados de TV, nenhum deles de grande audiência.
O mais perto de Hollywood que Strug conseguiu chegar foi à UCLA, tradicional universidade californiana onde, no mês passado, completou o primeiro ano.
O mesmo caminho, de astro de TV, tentou outro até então desconhecido atleta norte-americano.
Kurt Angle seduziu a mídia quando, medalhista de ouro na luta livre, chorou diante das câmeras para quase 200 países. Depois, o norte-americano, que até hoje procura um bico como ator, nunca mais foi visto nas emissoras.
A medalha de ouro está com sua mãe. E as performances de Angle têm sido feitas para alunos, não diretores de filmes ou seriados.
Estrela coadjuvante morre
A vida do alemão Ulrich Korchoff após Atlanta-96 não foi tão parecida à de Angle, mas também incluiu algumas lágrimas.
Não no pódio, todavia. Foi em sua casa. Precisamente, em 25 de agosto, menos de quatro semanas depois da cerimônia de encerramento dos Jogos de Atlanta, Jus de Pomme, o vigoroso cavalo belga que, literalmente, havia carregado Korchoff nas costas até o ouro olímpico, morreu.
Aos dez anos, o puro-sangue voltou doente já à Alemanha. Sofria de cólica. Não se recuperou, como era esperado, e foi levado pelo seu parceiro a uma clínica. Passou por uma cirurgia, mas não sobreviveu.

Com agências internacionais

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