São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Superprodução de gêmeos

IZABELA MOI

Fertilização assistida aumenta a propabilidade de gravidez múltipla
Os tratamentos de fertilidade estão provocando uma "enxurrada de gêmeos" -pelo menos, entre os mais ricos, que podem pagar até R$ 7.000 para ter um, ou vários, filhos.
A jornalista Fátima Bernardes, apresentadora do "Fantástico", é o exemplo mais recente desse fenômeno: depois de um processo de fertilidade assistida, ela anunciou que está esperando trigêmeos.
A apresentadora de TV Doris Giesse, 37, usou um medicamento que induzia a produção de óvulos porque tinha ovulação irregular. Em novembro passado, nasceram Daniel e Débora, gêmeos. Doris está feliz. "É lógico que dá mais trabalho, mas vai de uma vez só. Não dá tempo de mimar, e eu acabei virando uma prestadora de serviços."
A advogada Herta Grossi, 35, nora da deputada Esther Grossi (PT-RS), também teve gêmeos. Bruno e Cristiano nasceram há 3 meses, fruto de fertilização in vitro. "Ainda é muito cedo para decidirmos ter outros filhos, mas meu médico disse que daqui a 3 anos vai ser possível escolher o sexo dos bebês. Aí, talvez, eu queira ter uma menina, ou melhor, duas de uma só vez", conta.
A gravidez de gêmeos é considerada pelos médicos o limite exato entre uma gestação normal e a patológica. O ginecologista do setor de reprodução humana do Hospital das Clínicas, Nelson da Cruz Santos explica que "as mães não consideram a possibilidade de ter gêmeos uma tragédia, mas um lance de sorte".
Na poligestação, há maiores chances de ocorrer nascimento de prematuros, maior risco de complicações no parto, infecções e alterações no crescimento das crianças. "A mãe de gêmeos tem de parar suas atividades a partir do sexto mês de gravidez. Mas a possibilidade de ser mãe parece maior que qualquer obstáculo", afirma Santos.
Paulo Eduardo Olmos, chefe do setor de reprodução humana do Hospital Brigadeiro, explica que o médico que inicia um tratamento de fertilidade assistida está lidando com probabilidades. "Induzir o amadurecimento de mais de um óvulo é necessário para aumentar a possibilidade de uma gravidez na paciente."
A chance de uma mulher que passou por tratamento de fertilidade assistida ter gêmeos varia de 20% a 25% das gestações -nas fertilizações naturais, essa taxa é de 1% entre mulheres jovens, que não têm histórico de gêmeos na família.
Os processos de fertilidade assistida diferenciam-se em graus de complexidade. O primeiro método consiste em induzir a ovulação, por meio de remédios que estimulam a produção de estrógeno.
Nesse procedimento, o amadurecimento dos óvulos é controlado em exames de ultrassom e, muitas vezes, o médico sugere a datação do coito.
Na inseminação artificial, além de estimular a ovulação, há a introdução direta dos espermatozóides no útero. Olmos afirma que nessa fase "há pelo menos dois óvulos do mesmo tamanho, prontos para o amadurecimento final e a fecundação". Transferir mais de um óvulo em condições de ser fecundado significa aumentar as chances de pelo menos um vingar.
A fertilização in vitro (bebê de proveta) obtém a melhor taxa de gravidez quando são transferidos quatro óvulos. "Quando se transfere um só, a probabilidade de gestação é menos de 8%. Quando são quatro, a chance chega a 30% por transferência", explica Olmos.
Com mais óvulos prontos para serem fecundados, aumenta-se a probabilidade de gêmeos. "Em muitos países, já é permitida a redução embrionária, mas não no Brasil. Nos EUA, ela começou a ser permitida quando muitas mulheres começaram a processar os médicos por não terem programado mais de um filho", conta Santos.
"Além disso, o tratamento só é permitido a pessoas que comprovem ter uma união estável".

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