São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Via-sacra de grávidas chega a 8 hospitais

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

A peregrinação de uma gestante próxima do parto até encontrar um local para dar à luz na cidade de São Paulo pode incluir até oito hospitais. Há casos em que elas desistem da procura e fazem o parto em casa.
Uma pesquisa feita pela Pastoral da Criança de Sapopemba (zona sudeste de SP) entrevistou 500 mulheres. Os resultados das entrevistas tabuladas mostram que uma em cada quatro teve de ir a mais de um hospital para fazer o parto.
A pesquisa foi feita entre 95 e 96. A análise terminou em maio de 97.
Quase todas -96,3% delas- precisaram recorrer a hospitais de outros bairros. Os filhos das que deram à luz em Sapopemba nasceram em casa ou em carro de polícia ou de bombeiros.
Os principais motivos que as mulheres encontraram para ter a entrada rejeitada nesses hospitais foram falta de vagas, de médicos ou de infra-estrutura.
As mulheres do bairro, coordenadas por freiras da Pastoral da Criança, foram as pesquisadoras.
A médica sanitarista Ana Voloschko, especialista em saúde da mulher, tabulou e analisou os dados. Para ela, o fato de 24% ter de ir a mais de um local até conseguir parir é "inaceitável".
O índice de mulheres que foram atendidas no primeiro hospital a que chegaram foi de 76%.
"É falso imaginar que isso é positivo. Durante a gestação, elas, de alguma forma, procuraram lugar. Até parece que esses 24% não existem e não merecem atendimento."
Cerca de 30% das mulheres que conseguiram atendimento na primeira tentativa foram para o Hospital Pró-Matre, de Santo André.
Mortalidade
Segundo Voloschko, a peregrinação na hora do parto é, junto com os problemas com cesarianas, um dos principais determinantes de mortalidade materna.
A sanitarista Sara Sorrentino, da equipe técnica de saúde da mulher da Secretaria de Estado da Saúde, concorda com a pesquisadora.
"O ideal é que todas tivessem atendimento imediato. Não deveria haver nenhuma mulher peregrinando", diz Sorrentino.
Segundo ela, o problema ocorre também em outras áreas da cidade, principalmente na periferia. Sorrentino afirmou que o déficit de leitos na área de obstetrícia na região de Sapopemba é mais acentuado que em outras áreas.
Para a sanitarista, uma forma de resolver o problema seria garantir que a gestante saísse dos exames pré-natais com o local de parto definido (veja texto nesta página).
Os números da pesquisa mostram que 63,8% das mulheres que fizeram o pré-natal conseguiram o serviço fora de Sapopemba. Para conseguir o exame, tiveram de tentar 68 serviços diferentes.

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