São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Bille August surpreende com "Mistério na Neve"
LEON CAKOFF
Quem adorou "Pelle, o Conquistador" ignorou "As Melhores Intenções", um modesto projeto feito para a televisão sueca que foi apontado numa das pesquisas do cinquentenário de Cannes como uma das mais baixas rendas na história dos filmes premiados pelo festival. Em 1993, mal saído de sua segunda láurea em Cannes, Bille August aceitou dirigir um episódio vienense do "Jovem Indiana Jones". O projeto, de autoria de George Lucas, foi apontado como um dos grandes fiascos na história dos seriados americanos. Começou em seguida a adaptação do livro "A Casa dos Espíritos", de Isabel Allende, cercado de mistério e uma aura de superprodução pouco condizente com o projeto. Quem gostava do livro não se empolgou com o filme. Ao querer popularizar a dramaturgia política, August não contribuiu em nada para relevar as melhores intenções de Allende. Apoteose pirotécnica Bille August surpreendeu novamente ao inaugurar em fevereiro último o Festival de Berlim com este "O Mistério da Neve", filme que hoje chega aos nossos cinemas. O Festival de Berlim é especialista em extrair ilações artísticas de filmes meramente comprometidos com as regras de mercado, preferencialmente do mercado americano. Não se tinha idéia ainda precisa que Bille August desviaria a sua "grife" para tal direção. Não casa com o seu passado cinematográfico, mas este é o fato: quem quiser verá agora um filme de ação espetacular, todo passado no frio ártico, com direito a uma apoteose pirotécnica, uma eletrizante abertura. Nada a ver com quem há alguns anos fez imaginar o surgimento de um sucessor para Ingmar Bergman. Nada a ver também com o que se convenciona como um defectível filme comercial. Passado No filme, o mistério que move a bela figura da heroína Smilla (interpretada por Julia Ormond) está nas profundezas do gelo polar, onde uma pesquisa científica libera forças do mal em forma de bactérias que vampirizam o corpo humano. Metáforas à parte, o espectador será envolvido numa trama datada como num filme da série James Bond. Mas nada que lembre as motivações do velho agente secreto britânico. "Mistério na Neve" é cinema espetacular de um tempo sem idealismos, ideologias e reflexões sobre o passado, inclusive o passado do próprio cinema, em que Bille August estreou encantando o mundo com "Zappa" e "Twist and Shout", dois filmes sobre a nostalgia dos anos 60. Filme: Mistério na Neve Produção: Alemanha/Dinamarca/Suécia, 1997 Direção: Bille August Com: Julia Ormond, Gabriel Byrne, Vanessa Redgrave Quando: a partir de hoje, nos cines Lumière 1, Olido 1, Belas Artes - sala Candido Portinari, West Plaza 3 e circuito Texto Anterior: 'Sertão das Memórias' recria mitologia regional Próximo Texto: 'Breakdown' coloca pânico na estrada Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |