São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Que homem namora mulher fashion?

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para muita gente que não frequenta o mundo da moda, é difícil achar atraente o que ali parece ser o máximo. A Folha esteve na semana passada no Morumbi Fashion (desfile de coleções) e perguntou para pessoas que vivem de moda: Que tipo de homem namora uma mulher "fashion"?
A modelo Marina Dias, 21, 16 tatuagens, 8 piercings, sobrancelhas raspadas e participações em 19 dos 23 desfiles do evento, diz que os homens "até" gostam do seu jeito.
"É fácil eles acharem legal, mas muitos têm receio de uma mulher independente, tatuada como eu."
Marina conta que teve dois namorados na vida (com um, se casou) e que há um ano está só. Ela confessa que não é muito acessível.
"Não dou espaço para as pessoas se aproximarem. Na verdade, o tipo de homem que me agrada não existe aqui."
O tipo de homem que agrada Marina, de uma maneira geral, é o "tatuado". Mas que tipo de "tatuado"? "Não tem tipo específico. Metaleiro, intelectual, clubber."
Mauricinho também? "Detesto. É uma raça que não tem respeito por mulher. Bebem e avançam na gente. De mim, eles apanham."
Marina diz que costuma sair muito à noite.
"Não tenho mais amigos homens ou mulheres. O correto seria dizer que a maioria dos meus amigos é bicha."
O estilista Lino Villaventura, para quem Marina desfilou, acredita que mulheres como ela só conseguem namorar dentro de grupos específicos (tribos).
"O homem brasileiro é machista, tem medo de mulher com personalidade mais agressiva."
Villaventura diz que, apesar de machista, o brasileiro nota cada detalhe da roupa de uma mulher.
"Essa história de dizer que só uma mulher percebe o que outra mulher está usando é bobagem. O homem é muito reparador."
Adepta do "dread lock" (cabelo tipo "rastafari"), a porteira de boate Adriana Rechi, 24, que desfilou para Renato Loureiro e Marcelo Sommer, namorou três anos um desses homens reparadores.
"Olho mesmo. Acho que a personalidade de uma mulher tem tudo a ver com o que ela veste", diz Rodrigo Cirillo, 23, que é animador de noites de black music.
"Ele é rapper e eu, clubber", diz Adriana. Ela não é preconceituosa.
"Meu estilo de homem é skatista, mas tenho até amigos playboys (leia depoimento ao lado)."
Na opinião da diretora de criação de moda da revista "Elle", Regina Guerreiro, existem dois tipos de homens que namoram uma mulher "fashion": "O muito seguro e o muito inseguro", diz.
"Ou o cara tem estrutura para encarar uma mulher dessas, ou precisa dela para se apoiar e até abrir portas."
O vendedor de loja Fábio Tanigawa, 22, está no primeiro caso. Há dois anos ele se sentiu atraído pela "atitude" da produtora de moda Fernanda Gonzaga, 20, com quem acabou se casando.
"A idéia de beleza no Brasil tem a ver com cabelão 'de escova', decotão, bundona. Nos países do Primeiro Mundo, é o contrário: quanto mais 'atitude' a mulher tem, mais valorizada ela é", diz Tanigawa, que morou no Japão (leia depoimento ao lado).
E o que é, afinal, "atitude"? No caso, é um jeito de ser que prescinde de atributos físicos e em alguns momentos até os despreza.
"Enquanto a patricinha põe um decote e mostra as pernas bronzeadas, a gente prefere usar um piercing no seio", explica Fernanda, que tem os cabelos cor de creme de beterraba.
"Gosto de me divertir com o visual. Uma coisa feliz."

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