São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Mercado não valoriza nome de arquiteto

Assinaturas influenciam pouco o preço do imóvel

CLEIDE FLORESTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As ofertas de casas em São Paulo podem esconder um fator interessante e pouco considerado pelo mercado: a assinatura do imóvel.
Arquitetos como Flávio de Carvalho (1899-1973), Gregori Warchavchik (1896-1972), Oswaldo Bratke (1907-97), Rino Levi (1901-65) e Vilanova Artigas (1915-85), que participaram da história da arquitetura moderna, hoje não representam muita coisa.
Segundo a corretora Iracema Vergueiro, 32, que tenta vender uma casa de Artigas há meses, ninguém quer pagar por assinaturas.
A casa, que fica na r. Heitor de Moraes, no Pacaembu (zona sudoeste), tem 400 m2 de área construída em três pavimentos e 600 m2 de terreno.
A proprietária, Sueli Domingues, 40, apesar de afirmar estar aceitando proposta abaixo do valor de mercado, não divulgou quanto pede pela casa -assunto também vetado pela corretora.
Pelo preço de mercado, valeria em torno de R$ 350 mil, e o projeto original sofreu algumas alterações.
"A assinatura não influi no preço. O trabalho do corretor é encontrar o cliente certo para cada tipo de imóvel", diz Iracema.
Gilberto Sanches, 41, gerente de vendas da imobiliária Primos Imóveis, afirma que a "grife" pode valorizar um imóvel. Mas não sabe dizer quem valorizaria o mercado.
Já Armando Gonzalez, 43, gerente da Camargo Dias, contemporiza. Para ele, a autoria vale quando quando o imóvel está de acordo com as exigências do mercado.
"É preciso avaliar o tempo da construção, o estado de conservação e a localização. Poucos querem saber quem foi o arquiteto."
Há situações em que nem mesmo o morador sabe que o imóvel foi projetado por alguém de peso.
Esse é o caso de Gilberto Giorges Nasrallah, que tem um escritório, na rua Estados Unidos (Jardins), projetado por Rino Levi.
Ele diz ter comprado a casa em 1980 e só ter descoberto a autoria do projeto quando a reportagem da Folha o informou. "A casa não tem mais nada de original."
Mas há também situações contrárias a essa. Marisa Léa Nogueira Viterito, que mora em uma casa projetada por Artigas, quis vendê-la há alguns anos. Descobriu que nenhum corretor sabia quem tinha sido "o tal" arquiteto.
Há ainda outras complicações, como a enfrentada pelos filhos de Bratke, que não sabem quantas casas dele ainda existem.
O Secovi-SP (sindicato de imobiliárias e construtoras) dita algumas regras para a avaliação (nenhuma inclui a autoria do projeto): análises do mercado, do custo da construção e do preço do terreno e liquidez do imóvel.

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