São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Falar com carinho ajuda bebês, diz estudo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mães que falam com seus bebês daquele jeito exagerado, típico de quem conversa com criança, a partir de hoje podem perder o medo do ridículo: uma pesquisa em três países mostrou que essa maneira de falar ajuda o desenvolvimento da linguagem no bebê.
A pesquisa foi feita com 30 mães na Suécia, nos EUA e na Rússia, países que foram escolhidos por terem línguas nas quais a articulação das vogais é bem variada. As dez mães de cada país tiveram suas falas gravadas com os bebês, que tinham de dois a cinco meses de idade, e depois com uma pessoa adulta, por vinte minutos.
Apesar das diferenças entre inglês, russo e sueco, os resultados foram os mesmos: as mães exageram as mesmas vogais essenciais -os sons de "a", "i" e "u". Esse idioma "maternês", segundo Patricia Kuhl, da Universidade de Washington (EUA), em Seattle, "tem uma melodia, e nessa melodia há um tutorial para o bebê que contém versões excepcionalmente bem formadas dos principais blocos que constroem a língua".
O trabalho da equipe foi descrito em um artigo na revista científica americana "Science" de hoje. Além de Kuhl, participam outros oito autores dos EUA, Rússia e Suécia (incluindo um pesquisador português, Francisco Lacerda, da Universidade de Estocolmo).
"Quando mulheres de três diferentes culturas, falando três línguas diferentes, mostram os mesmos padrões quando falam com seus filhos, significa que a biologia está nos contando algo sobre essa necessidade e o valor disso para os bebês. Nosso trabalho é descobrir porque elas fazem isso e para que serve", declarou Kuhl.
Os pesquisadores acreditam que o uso dessa linguagem maternal ajuda os bebês a separar os sons em categorias bem distintas -ao contrário da fala adulta, na qual as vocais ficam mais misturadas, ou engolidas. Como os bebês não têm o mesmo aparato de vocalização de um adulto -a quarta parte em tamanho, e com menor frequência sonora-, essas "supervogais" servem de base para eles construírem suas categorias próprias.
Ou seja, diz Kuhl, os bebês não agem como minigravadores. "Eles estão analisando a fala", diz ela. O trabalho mostra que os bebês não são meros repetidores de estímulos e reações, como querem alguns psicólogos.

Texto Anterior: Comissão brasileira começa trabalhos
Próximo Texto: Nasa rejeita uma astronauta 'baixinha'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.