São Paulo, sábado, 2 de agosto de 1997
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Paula sabe o momento de parar

MANUEL MANRIQUE
FREE-LANCE PARA A FOLHINHA

Magic Paula está se despedindo da seleção brasileira. A Copa das Américas vai ser a última competição da campeã do mundo com a camisa do Brasil. "Chegou a hora de parar", diz.
Paula declarou que pensa em criar o Centro de Desenvolvimento do Basquete, voltado para crianças e jovens. Nesta entrevista, Magic Paula fala das irmãs, da escola, do basquete e dos motivos que a levaram a encerrar a carreira na seleção, que começou aos 14 anos.
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Folhinha - Como você era?
Paula - Fui uma garota agitada. Gostava de fazer qualquer tipo de esporte. Fazia natação, atletismo, jogava tênis de mesa. Tive uma infância saudável e feliz, apesar de o basquete ter entrado cedo na minha vida. Com 10 anos, já jogava.
Folhinha - Que outros motivos levaram ao basquete?
Paula - Meu avô foi jogador de futebol, mas não o conheci. Pode ser que geneticamente tenha alguma herança ligada ao esporte. O que me chamou a atenção foi que, em Osvaldo Cruz (SP), onde nasci e vivi, montaram uma equipe masculina. A cidade ia ver as partidas, e eu comecei a achar o jogo legal. Montaram uma equipe feminina, e minha irmã mais velha jogava. Quando tinha treino, ia com Cássia e pedia que ela falasse com o técnico para deixar eu treinar. Ele não deixava porque dizia que eu só tinha 10 anos.
Folhinha - Fale de seus pais.
Paula - Meu pai se chama Everardi e minha mãe se chama Ilda, e os apelidos deles são Beto e Neca. Eles foram as pessoas que mais me incentivaram. Aos 12 anos fui morar em Assis (SP), meus pais meio que me obrigaram a ir, e eu não conseguia entender por que tinha de jogar basquete fora da minha cidade.
Folhinha - Eles diziam o quê?
Paula - Nos primeiros dias, chorava, ligava para casa e levava dura: "Fica aí que vai ser bom para você".
Folhinha - E suas irmãs?
Paula - Somos quatro mulheres: Cássia Maria, a mais velha; Maria Paula (eu); Maria José, a Dudé; e Maria Angélica, a Branca; todas jogaram basquete.
Folhinha - E sua casa?
Paula - Superboa. Quando fiz 11 anos, meu pai fez meia quadra no quintal, e a gente brincava de basquete até onze e meia da noite. O legal foi que, quando o basquete pintou na minha vida, eles me obrigavam a estudar e falavam: "Para você jogar, vai ter de tirar nota boa ou, pelo menos, uma nota para passar".
Folhinha - Você tinha outro divertimento?
Paula - Todas as manhãs, como estudava à tarde, ia ao clube e brincava de basquete. Jogava futebol e brincava na rua de "mãe da rua", esconde-esconde e com carrinho de rolemã.
Folhinha - Que tipo de aluna você era?
Paula - Mediana. Nunca fui de boas notas porque era moleca, vivia atrás do esporte. Mas meus pais diziam que o esporte e o estudo tinham de caminhar juntos.
Folhinha - De quais matérias você não gostava?
Paula - Gostava mais de ciências, biologia. Na escola, fiz de tudo: entrava na fanfarra, tocava triângulo, jogava queimada, mas gostava mais de humanas, de redação. Não gostava de exatas.
Folhinha - Como melhorar o basquete feminino no Brasil?
Paula - Com o patrocínio das empresas, o basquete passou a ser mais profissional. Falta divulgar o basquete feminino em todo o Brasil, já que o interior de São Paulo é a grande força.
Folhinha - Vai ter mudanças nas regras do basquete?
Paula - O basquete é um dos esportes que mais muda. A cada quatro anos acontece a reunião da FIBA, a federação internacional, e há mudanças de regras. Por exemplo: em menos de 30 segundos você tem de atacar. Já estão querendo mudar o arremesso de 3 pontos. Querem aumentar a linha, porque está ficando fácil. Estão querendo também abaixar o aro para o feminino, que é de 3,05m.
Folhinha - Você pensa em participar do Mundial de 98?
Paula - Não. A Copa das Américas vai ser a última competição na seleção brasileira. Quero deixar bem claro: eu vou parar com a seleção, mas no meu clube eu vou continuar. Tenho contrato com a Microcamp até 1999. Eu acho que a gente tem de saber o momento de parar, antes que parem com você. Nós fomos campeães mundiais, medalha de prata em Atlanta, e a última imagem é a que fica. É o momento de reciclar, de dar força e apoio às novas jogadoras.
Folhinha - E as promessas?
Paula - Há jogadoras que estão aparecendo agora, são as juvenis. Vejo um futuro legal para a seleção. Tem a Janeth, que é do grupo intermediário, Roseli, Claudinha, Silvinha e o pessoal do juvenil, que é a Adrianinha, Kelly e Cristina.
Folhinha - Como é a idéia do centro de basquete?
Paula - O projeto possivelmente vai começar antes de eu parar de jogar no clube. É uma escola de basquete para apoiar as crianças carentes. Será um centro de treinamento (CT) em que a gente vai dar desde assistência médica, dentária, até psicológica, aos atletas. O CT também recrutaria atletas de outros Estados, que não tenham chance lá. São coisas que a gente vê em outros países e acha que no Brasil não acontece. Na Rússia, por exemplo, a criança treina e estuda no próprio CT.

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