São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Iene e marco fracos preocupam governo

DENISE CHRISPIM MARIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe econômica teme novas desvalorizações nas moedas japonesa e alemã nos próximos meses. Se confirmadas, essas movimentações anulariam o mecanismo de desvalorização branda do real adotado pelo Banco Central.
A Folha apurou que o temor dos técnicos não se concentra apenas nos desequilíbrios que podem provocar -mas também, principalmente, na reação do mercado.
Se forem mais acentuadas, estimam eles, podem causar nova onda de especulação, bem maior do que a verificada com a crise cambial no Sudeste Asiático.
Essas desvalorizações devem provocar desequilíbrios mais acentuados na balança comercial, que acumula déficit de US$ 5,51 bilhões de janeiro a julho deste ano.
Como consequência, repercutiriam negativamente no déficit em conta corrente (o total de operações do Brasil com o exterior), cujo saldo no primeiro semestre soma US$ 15,62 bilhões.
Competitividade
Ao desvalorizarem suas moedas em relação ao dólar, Japão e Alemanha tornam seus produtos mais baratos e ganham maior espaço, principalmente no mercado norte-americano.
O dólar, portanto, fica mais forte em relação ao iene e o marco. Problema: como o real varia em relação à moeda norte-americana, também sai mais valorizado do que já é.
Fabio Giambiagi, gerente de macroeconomia da área de planejamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), concorda que novas desvalorizações das moedas são preocupantes.
"A margem de manobra do governo já é restrita. Não vejo maior espaço de ação, além das microdesvalorizações nominais da taxa de câmbio que estão ocorrendo", afirmou Giambiagi.
O mercado, entretanto, concentra suas atenções nas cotações do iene e do marco alemão com o mesmo afinco que o governo.
"A preocupação do governo faz sentido. Mas não parece razoável mudar a política cambial. Essa opção estaria na contramão da estabilização", avalia Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
A moeda japonesa manteve trajetória de desvalorização de novembro de 96 -quando a cotação era de 90 ienes para cada dólar- até abril deste ano, quando passou para 127 por US$ 1.
Em maio, a equipe econômica festejava a tendência de recuperação do iene, que chegou a ter cotação mais favorável -de 113 por 1.
Em julho, entretanto, o iene sofreu ligeira desvalorização frente ao dólar. Às 15h30 da última sexta-feira, por exemplo, com 118,27 ienes se comprava US$ 1.
Em novembro de 1996, a cotação do marco alemão era de 1,51 por dólar. Caiu até chegar a 1,732, em abril. Na última sexta-feira, passou para 1,864 por US$ 1.

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