São Paulo, quarta-feira, 6 de agosto de 1997
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"Gracias, Brasil"

DIEGO RAMIRO GUELAR

Muitas coisas aconteceram entre a Argentina e o Brasil desde o dia 9/7/96, quando apresentei minhas cartas credenciais ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi ano de conflitos superados e avanços estratégicos extraordinários. Além disso, tive a honra de conhecer e compartilhar o trabalho e colaborar com importantes personalidades nacionais na empresa comum que é o Mercosul.
Por isso, devo agradecer ao sr. presidente Fernando Henrique Cardoso pelo exercício prático da sua condição de estadista na presidência da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Fortaleza (dezembro de 1996), na reunião da Alca (Belo Horizonte, maio de 1987) e na Cúpula Bilateral Argentino-Brasileira (Rio de Janeiro, 26 e 27 de abril de 1997), que teve Sua Excelência como anfitrião do sr. presidente Menem.
Em sua pessoa e na do ministro Luiz Felipe Lampreia, agradeço a todo o seu gabinete, com o qual resolvemos problemas setoriais que tinham preocupado durante muitos meses a opinião pública dos nossos países, superando as diferenças em alimentos, medicamentos, lubrificantes, produtos têxteis e outros, restando apenas uns poucos temas, que, com certeza, serão resolvidos a curto prazo.
Solucionamos o impacto da MP 1.569 (referente ao pagamento à vista das importações) por meio da "especificidade Mercosul" 1.569/97, e convencionamos o funcionamento dos "controles integrados de fronteira".
Mas não só resolvemos problemas do passado, senão também avançamos no aprofundamento da nossa relação, definindo-a como uma "associação estratégica" com três novos e ambiciosos objetivos: defesa comum, moeda única e cidadania compartilhada.
Obrigado, sr. vice-presidente Marco Maciel, por sua decisão de aproximar o norte brasileiro da República Argentina, enterrando a falsa oposição entre o Mercosul e o "Merconorte".
Sem a sua decidida condução, não teria sido possível pensar em organizar o primeiro encontro de governadores amazônicos e patagônicos no Amazonas, durante a visita de Estado que o presidente Menem fará ao Brasil no próximo mês de novembro. E sirva a abertura do décimo consulado argentino em território brasileiro (em Recife, no próximo dia 17 de setembro) como homenagem ao seu Estado natal e a toda a região nordestina.
Obrigado, sr. presidente do Senado Federal, senador Antonio Carlos Magalhães, e sr. presidente da Câmara dos Deputados, deputado Michel Temer, e, em suas pessoas, a todos os parlamentares com os quais compartilhamos a inquietude de impulsionar a formação das "famílias políticas do Mercosul" para aproximar nossas forças políticas.
Obrigado, governadores e prefeitos que, por iniciativa própria, criaram mecanismos como "Mercocidades" e o Codesul-Crecenea (Estados do Sul brasileiro associados a Estados do Nordeste argentino), fazendo obras de infra-estrutura.
Com todos eles, tive oportunidade de colaborar, integrando o processo de ação dos nossos consulados na Bahia, no Rio, em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Uruguaiana e Foz do Iguaçu.
Obrigado ao sr. secretário da Cultura da cidade de São Paulo, Rodolfo Konder, e, na sua pessoa, a todos os homens e mulheres da cultura brasileira que têm produzido uma "explosão de intercâmbio" com eventos de extraordinária qualidade e participação de público.
Obrigado ao presidente da escola de samba Mangueira, sr. Elmo José dos Santos, pelo seu apoio à idéia de que o enredo de 1999 seja "A Amizade Argentino-Brasileira". Reconheço que sonho com a idéia de ver carros alegóricos com Carlos Gardel e Tom Jobim, Evita e Iemanjá, Getúlio Vargas e Perón, Amazônia e Patagônia.
Obrigado a Caetano Veloso (a quem tive a honra de entregar sua primeira condecoração internacional -a Ordem de Maio argentina- na oportunidade do 89º aniversário de dona Canô, em Santo Amaro da Purificação) e, na sua pessoa, a todos os artistas brasileiros, que, de tanto querê-los e admirá-los, já são tão argentinos como o tango e o chimarrão.
Finalmente, obrigado aos jornalistas brasileiros, aos que me trataram bem e, especialmente, aos que me trataram mal, porque, apesar de ter permanecido só um ano como embaixador no Brasil, compartilho com muitos brasileiros mais de 25 anos como militante da democracia e da plena vigência dos direitos políticos e sociais. Qualquer excesso de liberdade é preferível ao silêncio da opressão.
Despeço-me, assim, de minhas amigas e meus amigos brasileiros, para marchar rumo ao meu novo destino, como embaixador argentino em Washington. Espero ali representar meu país como membro de nossa associação regional (Mercosul) e como aliado estratégico do Brasil.
O mundo do século 21 aguarda-nos construindo uma "nação das nações", com justiça social, crescimento econômico e unidade política.

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