São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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A taça é nossa

JANIO DE FREITAS

Não se preocupe. É claro que inflação de apenas 10,03% em São Paulo durante 96 não combina com o salto de preços que fez a cidade passar, no mesmo ano, de 21ª para 15ª cidade mais cara do mundo e conquistar a gloriosa condição de cidade mais cara da América Latina.
É claro que o salto não combina com os tão propalados ganhos de poder aquisitivo das classes economicamente mais baixas de São Paulo, que nem mesmo com eles poderiam obter o primeiro lugar em valor efetivo do salário na América Latina, quanto mais para a 15ª remuneração urbana do mundo.
Por alguma razão talvez impenetrável, o jornalismo brasileiro não simpatizou (a ponto de quase todo ele recusar-se à simples publicação) com os dados e possíveis significações do informe anual divulgado na Suíça pelo Corporate Resources, não importando que resultasse do levantamento de mais de 200 preços envolvendo alimentação, moradia, ensino, transporte, vestuário e lazer em cada uma das maiores cidades pelo mundo afora.
Mas não se preocupe com o ininteligível. Daqui a pouco algum economista oficialista (redundância?) dará uma explicação pacificadora. É para isso que existem, simultaneamente, economista e chuchu.
Na cruz
O governo, por intermédio do próprio ministro da Fazenda, movimenta-se (é verdade, moveu-se mesmo) para salvar a construtora Encol em nome da salvação de 42 mil compradores de apartamentos inacabados. Salvar a construtora, como sempre, é arranjar modos de lançar mais dinheiro de bancos oficiais no buraco da empresa em que já desapareceram outras fortunas dos mesmos bancos oficiais.
A Golden Cross não tem obrigações com 42 mil, mas com 60 vezes isso. A cobertura de assistência médica para seus associados de nada vale, porém. Médicos e serviços do ramo, esgotada a tolerância com a falta de pagamentos pela Golden, estão recusando os atendimentos por ela "cobertos". Não bastando os valores ridículos que (não) paga a médicos e serviços, a Golden ainda quer o desconto absurdo de 30% na sua dívida, para considerar maneiras de quitá-la.
Dois milhões e meio de pessoas que têm pago, e não pagam pouco, pela assistência privada a que recorreram por não receberem a que pagam ao governo. Pagam a dois cofres, não recebiam de um, agora não recebem dos dois. Mas nem o ministro da Saúde, nem o ministro da Previdência, nem o ministro da Fazenda demonstram algum interesse, por mínimo que seja, pelos golpeados pagadores de assistência. É preciso descobrir, entre um dos figurões que compraram e não receberam apartamento da Encol, algum que seja segurado pela Golden Cross.

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