São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Escola deve ser desocupada em 3 dias

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo estadual deu três dias para que os encortiçados que invadiram o prédio da Secretaria da Fazenda, na rua do Carmo (centro de São Paulo), saiam da escola estadual para a qual foram transferidos ontem.
"A escola (Professora Francisca Teixeira Camargo, na Penha, zona leste) não foi feita para ser abrigo. Foi uma situação provisória. O prazo é de três dias e acabou", disse o chefe de gabinete da Casa Civil, Flavio Patrício, que intermediou as negociações entre sem-teto e governo.
Segundo ele, o governo de São Paulo não tem intenção de criar um programa específico para o grupo.
"Não cabe ao governo resolver esse problema de moradia. Não podemos simplesmente construir casas para eles e pronto. O programa habitacional do governo não funciona assim, existe uma demanda e não podemos dar prioridade para nenhum grupo."
Desabrigados
Segundo Patrício, se os invasores não têm para onde ir, são desabrigados. "E o lugar que a sociedade convencionou para os desabrigados são os albergues, seja do Estado ou da prefeitura."
O Estado pode, no máximo, segundo Patrício, contribuir na busca de novas alternativas, como outros alojamentos.
A Folha apurou que as negociações de anteontem quase chegaram a um impasse, porque o governo não aprovou dois itens da pauta de reivindicações da ULC (Unificação das Lutas de Cortiços).
"Numa primeira pauta (revogada pela ULC), eles queriam que uma sala do imóvel servisse de sede para o movimento. Isso é um absurdo. Na segunda que nos enviaram, pediram que as famílias fossem incluídas 'em caráter preferencial' no PAC (Programa de Atuação em Cortiços), mas o governo não dá preferência para ninguém", disse Patrício.
Ontem, o final da mudança para a escola estadual ocorreu tranquilamente. A PM não precisou intervir. Os sem-teto foram para sua "nova casa" em três ônibus, e a mudança, em três caminhões.
Segundo Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, da ULC, um dos líderes da invasão, os sem-teto esperam que o governo cumpra o acordo. Os ex-invasores assinaram um acordo compremetendo-se a ficar na escola por, no máximo, cinco dias.
"Esperamos a transferência para um alojamento decente. Vamos sugerir prédios públicos mais próximos do centro para alojar essas pessoas até que o governo construa ou adapte imóveis para as famílias que estão aqui."
Mais pessimista, a sem-teto Débora Ozório Ronchi, 20, casada e mãe de dois filhos, disse que, se o alojamento não der certo, já pensa em participar de outra invasão.
"Se as coisas derem errado por aqui já estamos planejando invadir outro prédio. Melhor a invasão do que morar com meu marido e duas crianças na casa de minha mãe, que é pequena."

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