São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997 |
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Zukerman dá vivacidade à orquestra
MARCELO MUSA CAVALLARI
Zukerman fez a parte do violino solo do concerto de Vivaldi "Il Sospetto" e do "Concerto Opus 61" de Beethoven e regeu a sinfonia nº 92 "Oxford" de Haydn. Com cacoete de solista de violino, que toca em pé e não pode chacoalhar a cabeça, Zukerman rege com o corpo todo. Balança o tronco, mexe as pernas. Várias vezes chega a dançar, quase. Especialmente ver seus pés é muito divertido. Ele os bate no chão, bate os calcanhares, sem se importar muito em estar adicionando alguns ruídos às peças. Sua regência é mais sugestiva do que propriamente um código de gestos. Deve ser difícil para instrumentistas menos experientes, mas funcionou maravilhosamente com o clima de coletivo do concerto da English Chamber. Os ingleses chamavam de "collective" conjuntos que tocavam sem regente, e é quase isso que a orquestra fez. No concerto de Vivaldi -para violino, cordas e baixo-contínuo- a maior simplicidade da peça não tornou tão nítida a eficácia da orquestra e o grau de entendimento entre solista e os demais instrumentistas. Mas já estava lá a leveza e a alegria de tocar. Como um grupo de amigos da música. Quase como amadores, não especialistas. O regente sola, a clarinetista aproveita a folga e toca a parte do cravo. O concerto de Beethoven é uma peça muito mais complexa, com extensas passagens de desenvolvimento em que é preciso fazer ouvir motivos, frases e contrapontos executados ora nas vozes superiores, ora nas inferiores, ora no solo, ora nos acompanhamentos. É exatamente em momentos como esse que o regente é, em tese, indispensável. A English Chamber Orchestra fez tudo isso sozinha com precisão e expressividade enquanto Zukerman solava de costas para a orquestra. Especialmente eloquente foi a passagem em que o fagote glosa o tema do rondó em diálogo com o violino solo. O brilho de Julie Price, até com movimentação de solista, elevando-se do fundo da orquestra, emprestou um significado cênico inesperado ao concerto. Zukerman é um desses músicos que vale a pena ver tocando ao vivo. Ver, mesmo, não apenas ouvir. Sem deixar de ser um músico rigoroso, ele tem uma presença física extremamente simpática. Sua simpatia foi a responsável, até, pelo único defeito do concerto (uma entrada antecipada do violino de Zukerman no movimento final do concerto de Beethoven foi um deslize quase imperceptível). Zukerman não resistiu aos pedidos e concedeu um bis. Depois de um programa tão bem imaginado, em que a ordem cronológica foi acompanhada por um crescendo em complexidade composicional, a pecinha divertimentosa de Mozart não deveria ter sido tocada. Quando a platéia quis outro bis, Zukerman dispensou-a com humor e elegância tocando a melodia da canção de ninar de Brahms. Deveria tê-lo feito feito antes. Texto Anterior: Programação Oficial do 25º Festival de Gramado Próximo Texto: Gramado abre amanhã à procura de perfil Índice |
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