São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Líderes israelense e árabe prevêem violência

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Dois dos principais líderes do Oriente Médio deixaram claro ontem quão explosiva é a situação nessa área, sempre um dos pontos mais quentes do planeta.
"Se as bombas explodem e se houver novas bombas, não haverá paz e possivelmente poderá acontecer o pior", disse Binyamin Netanyahu, premiê de Israel.
A seu lado, o príncipe Hassan, irmão do rei Hussein, da Jordânia, ecoava: "Estamos à beira de revisitar a violência".
Pior: os dois haviam tido uma conversa privada de uma hora, destinada exatamente a explorar a possibilidade de romper o impasse entre Israel e a ANP (Autoridade Nacional Palestina) provocado pelo atentado do dia 30, que matou 15 pessoas.
Ao saírem do encontro com esse tom, para uma entrevista coletiva conjunta, deixam evidente que não houve o menor avanço.
Canto ao confronto
Ao contrário, o que há são cânticos ao conflito de parte a parte.
Contraditoriamente, o ministro israelense de Segurança Pública, Avigdor Kahalani, foi em outra direção, ao dizer que, "se descobrirmos que os terroristas vieram de fora (dos territórios palestinos), me desculparei com Arafat".
Arafat, em reunião com membros da Fatah, a ala palestina de que faz parte, proclamou: "O povo palestino continuará forte, contra todas as provocações, até que um menino ou uma menina palestina agite a bandeira da revolução palestina sobre os muros da santa Jerusalém, a capital da Palestina". Se há alguma coisa que leve os judeus à mais extrema irritação é mencionar Jerusalém como capital de um Estado seu.
Se Arafat, tido como moderado, usa essa retórica, acaba soando natural o teor das ameaças dos grupos palestinos extremados.
"Israel deveria preparar os hospitais para receber os muitos novos mortos e feridos em estado de choque que serão as vítimas de nossos ataques", diz panfleto reivindicado pelo Hamas (Movimento de Resistência Islâmico).
Ao panfleto anônimo soma-se a entrevista que um dos líderes do Hamas, Mahmoud al Zahar, deu ao semanário egípcio "El Musauar". Nela, Al Zahar reclama do bloqueio israelense, dos 4.000 prisioneiros palestinos que Israel mantém (250 deles do Hamas) e da liberdade de um soldado que feriu a tiros sete palestinos, no início do ano, em Hebron.
"Os israelenses vão beber do mesmo veneno de que nos estão fazendo provar", ameaça o líder do grupo extremista.
As autoridades israelenses levam a sério essas ameaças, a ponto de o ministro da Saúde, Yehosuha Matza, ao visitar o mercado Mahane Yehuda, ter dito que estudaria a possibilidade de que os feirantes tivessem cursos de primeiros socorros e de que se armazenem kits de emergência no mercado.
Pequenos incidentes nos territórios ocupados também dão credibilidade às ameaças: anteontem à noite, quatro bombas incendiárias foram atiradas contra carros israelenses na Cisjordânia.
Ninguém ficou ferido, e apenas um dos carros foi levemente danificado. Mas já é o suficiente para justificar o temor do príncipe Hassan de que a região esteja à beira de uma nova visita da violência.
Certamente por isso, os EUA começam a se mexer mais rapidamente. Sábado, chega o enviado especial de Bill Clinton, Dennis Ross, para discutir, acima de tudo, a questão da segurança. Depois, virá a própria secretária de Estado, Madeleine Albright.

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