São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Real duplica as vendas de cosméticos

FLÁVIO ARANTES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A beleza parece nunca ter sido tão fundamental no Brasil. Quem diz é a estatística, não a poesia.
Nos últimos três anos, enquanto a atividade econômica caminhou a passos curtos em decorrência da estabilidade dos preços, o faturamento da indústria de cosméticos e perfumaria quase dobrou.
Foram R$ 841 milhões em 1994, ano de implantação do Real, contra R$ 1,6 bilhão em 96 (preços de fábrica, sem impostos).
A tendência de crescer muito mais rápido do que o ritmo da economia deve continuar, segundo projeção corrente no setor.
Para este ano, em que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro não deve crescer mais de 4%, o setor projeta crescimento de até 10%.
O Brasil já é o quinto mercado mundial, o primeiro entre os países em desenvolvimento. Em 94, era apenas o décimo.
"Hoje a competição é maior. O mercado está crescendo de maneira significativa", afirma João Carlos Basílio da Silva, presidente da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higienie Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).
A posição do Brasil no ranking reflete as vendas em termos absolutos. Em termos relativos, a história é outra: o país fica em 27º lugar no consumo per capita.
Os fabricantes, no entanto, preferem ler essa classificação como sinal de grande potencial do mercado. Como esse mercado está aberto às importações, eles tentam garantir sua fatia dos negócios.
Dois exemplos são a L'aqua Di Fiori e a O Boticário, líderes no setor de franquias, que têm juntas mais de 2.100 lojas.
A O Boticário, com sede em São José dos Pinhais (PR), está investindo R$ 10 milhões num programa de reestruturação administrativa.
A empresa eliminou os master-franqueados -responsáveis pela compra e distribuição dos produtos aos franqueados-, está informatizando todas a 1.433 lojas e reestruturou o seu organograma.
Antes da reestruturação, a empresa vendia aos seus 21 master-franqueados, que repassavam o produto as lojas. "Existia um filtro de informação entre as lojas e nós. Com a mudança, queremos acabar com isso", diz Miguel Gallet Krigsner, presidente da O Boticário.
A empresa terceirizou a distribuição e passa agora a vender diretamente aos franqueados.
Além disso, está informatizando todas as lojas, que vão estar ligadas "on line" à fábrica.
Com as mudanças, Krigsner espera crescer a taxas de 10% a 12% ao ano, contra uma média em anos anteriores de 6%. A O Boticário faturou R$ 143 milhões no ano passado em venda direta às lojas.
"Outro país"
A L'aqua Di Fiori, com sede em Belo Horizonte (MG), está lançando uma linha nova, "Natural Garden", com 32 produtos a preços mais acessíveis.
Uma loção da linha tradicional, que pode custar até R$ 26, vai ser encontrada por R$ 10.
Com a nova linha, a empresa está mudando o seu conceito de loja, que passa a ser de auto-atendimento.
"Se não for assim, o lojista não vai conseguir mostrar todos os produtos ao consumidor", diz Leopoldo Mesquita, presidente da empresa.
Segundo Mesquita, 20 das 700 lojas franqueadas da empresa já se adaptaram ao novo sistema e toda a rede deve ser alterada até o final do ano.
Além disso, a L'aqua eliminou etapas no processo de relação com as lojas. Produtos terceirizados pela empresa, como a produção de sacolas, vão ser vendidos diretamente pelo fabricante às lojas, com economia para estas de 19%. Antes, a própria L'aqua comprava as sacolas e repassava ao lojista.
A empresa estuda também a terceirização da fabricação de alguns produtos. "Nós estamos em outro país, em que um centavo no preço faz uma diferença muito grande", diz Mesquita.

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