São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997 |
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Interior de SP vira Texas em 'Buena Sorte'
JOSÉ GERALDO COUTO
Embora exiba uma roupagem "moderna" e se ambiente em parte no Texas (filmado no oeste de São Paulo), o enredo tem a singeleza e os clichês das velhas canções caipiras ou das velhas telenovelas (anteriores ao império do cinismo e do merchandising). Depois da morte trágica dos pais, um garoto brasileiro é criado pelo tio (Gracindo Júnior) no Texas, onde se torna um exímio peão (Marcos Palmeira). Paralelamente a essa trama central -e intervindo nela em alguns momentos- há um entrecho cômico que é, de longe, a melhor coisa do filme: um rapazinho meio avoado (Caio Junqueira), que vive lendo gibis de caubói, fantasia-se de Zorro e prende um americano que ele pensa ser bandido. Ali, o filme parece rir de si mesmo e de sua inconfessada premissa: a de que o modernizado interior paulista não é muito diferente do Texas e da Califórnia. No mundo rural mostrado em "Buena Sorte", não há conflitos sociais, nem feiúra. Toda tensão vem do choque, romântico e não-histórico, entre o bem e o mal. Tudo isso condiz, é claro, com certa fórmula geral de narrativa de entretenimento -mocinho enfrenta bandidos para ficar com a mocinha-, acrescida de uma reviravolta melodramática bem ao gosto latino. "Buena Sorte", em suma, não mostra o interior como ele é, mas como gostaria de se ver. Cabe lembrar que o mundo reluzente dos "agroboys" que o filme celebra, com suas picapes importadas e seus telefones celulares, é o mesmo que acabou com os cinemas e teatros do interior, que demoliu casas seculares para construir edifícios horrendos, que fomentou a onipresente e insuportável música dita sertaneja. O filme, em todo caso, faz o que se propõe. Sua sorte, "buena" ou má, está nas mãos do público. Texto Anterior: NOTAS SERRANAS Próximo Texto: Coletâneas repetitivas invadem o Brasil Índice |
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