São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 1997
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Empresa multada por fisco recebe isenção

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Multada pela Receita Federal por "omissão fiscal", a Dell'Arte, empresa produtora de espetáculos de música clássica, se beneficia da Lei de Incentivo à Cultura. Recentemente, o fisco multou a Dell'Arte em R$ 280 mil, por "omissão fiscal" relacionada à apresentação do tenor José Carreras em Manaus, no ano passado.
E, justamente nesse caso, a empresa se beneficiou da Lei de Incentivo à Cultura.
"Nós informamos a Receita quem se beneficiou da lei. Nesse caso não fomos comunicados pela Receita da existência da multa. Dessa forma não podemos fazer nada. Não podemos fazer presunção de culpa", explica o secretário de Apoio à Cultura, José Álvaro Moisés, que, por isso, prefere não se referir à Dell'Arte.
Ele afirma, entretanto, que qualquer empresa que tenha infringido a Lei de Incentivo à Cultura perde o direito de usá-la durante três anos.
Para quem infringi-la está também prevista uma pena de reclusão de dois a seis anos e uma multa de 20% do valor do projeto.
Moisés diz que nunca houve nenhum "problema mais sério" relacionado à lei.
Segundo ele, a prestação de contas da Dell'Arte para a apresentação de Carreras foi aprovada em uma primeira checagem e está sendo submetida, como é padrão, a uma segunda checagem.
Segundo o ministério, a apresentação de Carreras foi o único projeto da Dell'Arte beneficiado em 95. A empresa fez quatro pedidos.
O que permite a lei
Pela Lei de Incentivo à Cultura (a lei nº 8.313), uma empresa pode usar até 5% do seu imposto devido em patrocínio à cultura.
Desse total, a lei permite que empresas não financeiras possam descontar até 66% e empresas financeiras possam descontar até 76%.
Embora não tenha fornecido a listagem dos eventos da Dell'Arte que obtiveram isenção fiscal, o Ministério da Cultura confirmou que a vinda do Balé Kirov, no ano passado, foi inscrita no programa da Lei de Incentivo à Cultura.
A vinda do grupo, trazido pela Dell'Arte, causou polêmica. O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Distrito Federal contesta os valores apresentados.
Pelo contrato, a companhia receberia R$ 12 mil por cada apresentação programada. E R$ 10 mil pelas apresentações extras.
O Balé Kirov veio ao Brasil com 139 pessoas -sendo 92 bailarinos. A serem verdadeiros os valores do contrato, cada integrante do balé receberia R$ 86,33.
O próximo evento da Dell'Arte que conta com isenção fiscal são as apresentações do New York City Ballet, que ocorre no final de setembro e no início de outubro em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Procurados pela Folha, os responsáveis pela Dell'Arte não foram encontrados nem retornaram as ligações.
A Folha tenta um contato com a empresa há mais de dez dias.
A Folha revelou que a Receita está investigando, sob suspeita de subfaturamento e fraude fiscal, os contratos de shows internacionais realizados no Brasil.

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