São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997 |
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Betinho e os direitos da criança
BENEDITO DOS SANTOS
Uns meses antes, eu havia pedido ajuda ao instituto que ele dirigia, o Ibase, para ajudar o Movimento de Meninos de Rua. A idéia era fazer um estudo sobre quantas crianças e adolescentes pobres estavam sendo assassinadas no Brasil. O estudo foi feito, e o resultado era bastante triste. Mais de 800 crianças e adolescentes haviam sido assassinadas nos cinco anos anteriores, uma média de uma criança a cada três dias. Os meninos e meninas presentes no encontro prestaram uma homenagem aos seus companheiros mortos. Para cada um deles, soltaram um balão de gás que voou para o infinito. Betinho chorou muito (e todos nós presentes também) e disse que aquele tinha sido um dos momentos mais emocionantes de sua vida. Disse também que nós precisávamos expressar a nossa indignação (raiva, desprezo) até a violência contra as crianças terminar. A partir daquele dia, Betinho e sua equipe passaram a trabalhar cada vez mais para apoiar programas destinados a levar os meninos e meninas de volta para casa e defender os direitos de todas as crianças. E ele nunca mais esqueceu de incluir as crianças em tudo o que fazia. Betinho já era conhecido por muita gente, mas foi na Campanha de Combate à Fome pela Cidadania que o Brasil inteiro passou a reconhecer o trabalho que ele desenvolvia. E, na última vez que nos encontramos, em dezembro do ano passado, ele contou que foi tão bonita e importante a participação de crianças, adolescentes e jovens nessa campanha para acabar com a fome no Brasil, que agora seu grupo estava lançando uma outra campanha para incentivar os jovens a ajudar outros jovens necessitados. Quando uma pessoa morre, a gente fica com uma vontade de falar uma porção de coisas que a gente gostaria de ter dito enquanto ela estava viva e não teve oportunidade. Conhecendo o Betinho, sabe o que eu acho que ele gostaria de ouvir de você que está lendo este jornal agora? Que você contasse a ele pelo menos uma ação concreta que você fez para ajudar as outras pessoas. Benedito Rodrigues dos Santos é antropólogo, coordenador da Seção Brasileira da Defesa da Criança e consultor do Unicef. Texto Anterior: Projetos ajudam meninos de rua Próximo Texto: Educação com arte Índice |
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