São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997
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'Precisamos lembrar os mortos'

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A escritora Lygia Fagundes Telles vai abrir a homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade na segunda-feira.
Amiga pessoal de Drummond -eles começaram a se corresponder quando ela ainda era um estudante de direito-, Lygia afirma que o poeta foi "fio luminoso na árdua tarefa de escrever".
A autora diz que não preparou um texto para o evento, vai apenas dar seu depoimento. Leia a seguir trechos da entrevista.
(PD)
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Folha - A homenagem foi feita para responder a um poema de Drummond, onde ele diz que, no final, só resta o prazer da escrita. Para a sra., o que ficou de Drummond?
Lygia Fagundes Telles - O poeta (Drummond) tem um belíssimo poema, intitulado "Resíduo", que eu lerei no evento e que responde exatamente essa questão. Fala justamente no que fica, porque sempre fica alguma coisa, às vezes um rato, um botão.
Os versos são assim: "Se de tudo fica um pouco/Mas por que não ficaria um pouco de mim?". Dele, ficou essa obra admirável que o tornou o maior poeta do século 20. Repito, para mim, Carlos Drummond de Andrade é o maior poeta deste século que termina.
Folha - Qual a importância desse evento?
Lygia - Nós precisamos estar sempre lembrando os mortos. A memória é muito curta no Brasil, especialmente a memória literária. Com os músicos não, principalmente estrangeiros e aí está o nosso sentido de colonizado. Nós não damos importância ao que é nosso. Acho que homenagens como essa fazem com que nossos valores verdadeiros sejam homenageados.
Folha - A sra. foi amiga pessoal de Drummond...
Lygia - Desde os tempos acadêmicos, quando eu estudava direito, ficava espantada por ele me dar confiança. Ele já era um poeta importante. Eu escrevia no maior encantamento e ele me respondia. E essa amizade foi um fio luminoso. Deu luminosidade a esse ofício árduo que é escrever.
Folha - Para a sra., qual a característica pessoal mais marcante do poeta?
Lygia - Ele era de uma extraordinária generosidade, de um amor ao próximo. Essa é uma virtude rara, tanto mais em escritores, que, em geral, ficam centrados em si mesmos. Se preocupava demais com este país, apesar de, no final, achar que o país não estava tão bom. Mas há coisas ruins também em todos os lugares.

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