São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997
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O código dos espertos

MARTA SALOMON

Brasília - É como se um Boeing caísse dia sim, dia não no Brasil e matasse todos os passageiros. Ou ainda como se quase todo o dinheiro que o governo espera receber com a privatização da Vale do Rio Doce fosse para o lixo a cada ano.
Não é exagero. São números oficiais sobre os acidentes de trânsito.
O grupo executivo de redução de acidentes, ligado à Casa Civil da Presidência, calcula que o impacto dos gastos com as vítimas, incluindo o que deixa de ser produzido no país pelos acidentados, atinge R$ 4,5 bilhões por ano.
As estatísticas mostram também o seguinte: a culpa, em 90% dos casos, é do motorista. As condições das estradas e falhas mecânicas respondem pelos 10% restantes.
Pois esses números -para lá de indigestos- estão alimentando uma guerra de lobbies em Brasília.
Depois de quatro anos de debates, o Congresso produziu um projeto de código de trânsito com exatos 1.037 dispositivos e algumas oportunidades de negócios a serem bancadas com dinheiro do usuário.
Segue uma lista resumida de potenciais beneficiários: empresas que cuidariam de uma inspeção anual obrigatória nos veículos, psicólogos que atestariam as condições do motorista a cada cinco anos e até o senador Gilberto Miranda (PFL-AM), que lucraria com a produção de um novo equipamento de uso obrigatório.
Esses lobbies já foram detectados pelo Planalto e deverão ser vetados quando o código deixar o Congresso, junto com as multas de até R$ 1.000, consideradas altas demais para fazer algum efeito.
A saída do governo foi partir imediatamente para cima das montadoras, chamadas, num primeiro momento, para uma conversa amigável, como se viu ontem no Ministério da Justiça. Propagandas que estimulam o excesso de velocidade ou transgressões no trânsito deverão ser retiradas do ar.
Se você é daqueles que usam cinto de segurança, param nos sinais mesmo sem guarda por perto e não dirigem como se brincassem de videogame, já ajuda.

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