São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Cidade grande atrai, mas assusta

AUGUSTO PINHEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Deixar para trás a família, amigos, a tranquilidade de uma cidade menor para viver em São Paulo significa uma mudança brusca na vida de jovens estudantes.
Oito desses aventureiros dividem um apartamento que pode ser chamado Brasil. São representantes das cinco regiões do país.
"A minha cidade, Aracaju (SE), é muito tranquila. Não suporto poluição, trânsito. Sinto falta da praia, família, castanha de caju", diz Morgana Alves, 19, que cursa jornalismo na USP.
Ela decidiu enfrentar São Paulo pela qualidade de ensino da universidade. "Além disso, em Aracaju não há muito espaço para a minha profissão", completa.
Esses são os mesmos motivos que trouxeram os seus companheiros de apê para cá. Todos, com exceção de Naracéia -de Manaus (AM)- são estudantes da USP.
"É a melhor universidade do país, e aqui o campo de trabalho para física é melhor que em outros lugares", diz Vladimir Gobbi Jr., de Caxias do Sul (RS).
Outra vantagem de morar na cidade, segundo eles, é a vida cultural agitada. "Todos os shows passam por aqui", diz Victor Bittow, 18, de Goiânia (GO) e aluno de publicidade e propaganda.
Mas as adversidades da metrópole, como violência, poluição, congestionamentos, acabam encobrindo o seu "lado bom".
"Para mim, o maior problema é a violência. Não dá para pegar um cinema sozinha à noite", diz Denise Casatti, 18, que mora com duas amigas em um apartamento em Pinheiros (zona sudoeste). Ela é de Araçatuba -interior de SP.
Há seis meses aqui, Denise ainda não está acostumada. "Quando voltei agora de férias, sofri o mesmo choque da primeira vez", diz.
A saudade da família também pesa. "Chorei muito no primeiro dia, quando morava num pensionato", lembra Morgana. Denise se sentiu sufocada na primeira semana. "Queria o meu quintal." O telefonema semanal é o remédio.
Amigos daqui e de lá
Os "estrangeiros" dizem que se entrosam bem com os paulistanos. "Tenho amigos daqui e de fora. Basicamente o pessoal da universidade", diz Morgana.
Denise, que é colega de sala de Morgana, até mudou a imagem que tinha dos paulistanos. "Aqui não são todos frios e calculistas, que acham que as pessoas do interior são burras e falam com 'r'." Mais da metade da turma delas é de fora da capital paulista.
Mas alguns, segundo Victor, ainda tem uma visão estereotipada dos Estados "acima de Minas". "Eu explico que Goiânia tem mais de um milhão de habitantes, é desenvolvida. Mas eles fazem apenas brincadeiras saudáveis."
Eles não pretendem voltar para suas cidades natais depois de formados. "Aqui estão as grandes empresas, as oportunidades", diz Marcelo Ventura, 20, de Goiânia e aluno de engenharia elétrica.

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