São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997 |
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Welles/Macbeth e Olivier/Hamlet se confrontam
NELSON DE SÁ
Welles, mais o ator que o diretor, preferia "Chimes at Midnight" (65), sobre Falstaff, personagem patético que tinha muito dele próprio (com cenas de "Henrique 4º", "Henrique 5º" e "As Alegres Comadres de Windsor"). São filmes singulares. Em "Macbeth" está presente a criação múltipla do ator/diretor de teatro/cinema, mas limitada pela produção à Roger Corman e pela pressão de mostrar ser respeitoso das regras industriais de Hollywood. Filmou em três semanas, sempre restrito ao estúdio, mas com passagens de criação próprias da fama que o incensava e perseguia. Usou os limites de orçamento em seu favor, atingindo uma atmosfera opressiva de salões fechados, potencializada pelos figurinos e adereços sombrios, que expuseram um Macbeth levado ao desvario homicida, infanticida, pela ambição de poder -ou melhor, pela fraqueza diante da ambição. O elenco, de companheiros de teatro, do Mercury, é talvez o melhor do filme, em especial com o próprio ator-rei (como se descrevia) Welles e com a enlouquecida Lady Macbeth (Janet Nolan). Por outro lado -o que somou nova camada de rancores hollywoodianos à sua lista- foi um "Macbeth" com sotaque escocês, o que levou a acusações de incompreensível. Passado meio século, o efeito é enriquecedor, de estranha musicalidade em Shakespeare. Com todo o limite de produção, o arriscado "Macbeth" de Welles talvez seja de maior agrado, nestes tempos "pulp", do que a perfeição e o detalhismo do "Hamlet" (1948) de Laurence Olivier. É uma versão muito cortada da tragédia (aliás, como "Macbeth"), o que causou revolta nos puristas do teatro, mas não do cinema, de meio século atrás -com Eric Bentley, o crítico anticomercial, na vanguarda dos ataques. O estranhamento maior vem do corte de personagens, como Rosencrantz e Guildenstern, e da redução da trama para acomodar-se à visão edipiana de Hamlet então em voga, por conta de estudos freudianos à Ernest Jones. Freudiano que seja, diante do tio Cláudio que casa com sua mãe e leva o trono, trata-se de um Hamlet sensual e apolíneo, que sobressai ainda mais em comparação com as atuações frias à sua volta. (Jamais se compreendeu por que Vivien Leigh, mulher de Olivier e que tinha tudo para o papel, até a loucura, não fez Ofélia.) Olivier é certamente a maior referência de interpretação de Hamlet no cinema, até pela consagração do Oscar de melhor ator e pela viabilização comercial. Nem tanto no teatro, onde o arrebatado John Barrymore e o técnico John Gielgud projetam longas sombras. Filme: Macbeth Direção: Orson Welles Filme: Hamlet Direção: Laurence Olivier Lançamento: Continental Home Vídeo (tel. 021/262-5212) Texto Anterior: IRMÃOS STENBERG Próximo Texto: História de "Evita" caberia melhor em um tango argentino Índice |
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