São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Déficit externo é preocupante, diz Langoni

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni afirmou ontem que o déficit em transações correntes é preocupante e que o ideal seria mantê-lo entre 2% e 3% do PIB (Produto Interno Bruto).
Esses percentuais equivalem a US$ 15,6 bilhões e US$ 23,4 bilhões neste ano, levando-se em conta a previsão de que o PIB alcance US$ 780 bilhões.
No cálculo das transações correntes entram todas as operações do Brasil com o exterior, menos a entrada e saída e capitais.
Para Langoni, atrelar a variação do real a um conjunto de moedas de vários países, não apenas ao dólar, seria "um refinamento possível na política cambial".
"Essa opção refletiria melhor nosso comércio exterior", afirmou. Ou seja, poderia reduzir a sobrevalorização do real e gerar, como consequência, aumento da competitividade dos produtos exportados.
A recuperação dos embarques, principalmente de produtos manufaturados, é essencial para que o déficit em transações correntes seja reduzido.
Câmbio vai bem, mas...
A preocupação de Langoni com o déficit em transações correntes foi compartilhada por parte dos empresários que compareceram ontem à posse de Gustavo Franco na presidência do Banco Central.
"Acho que a política cambial está indo bem, mas nunca se sabe quando teremos problemas", afirmou Tomas Zinner, presidente do Unibanco.
"Vivemos em um mundo globalizado e o que aconteceu na Tailândia pode se expandir rapidamente", completou, referindo-se às sucessivas desvalorizações da moeda daquele país, o baht, desde julho.
Para o diretor do banco Icatu, Pedro Bodin, o déficit em transações correntes de 4% a 4,5% do PIB neste ano seria razoável. O saldo negativo, afirmou ele, deverá continuar em 1998 e 1999. "Em algum momento, vai diminuir. Mas não vai zerar", declarou Bodin.
Segundo Sérgio Werlang, diretor-adjunto de pesquisa do banco da Bahia, o governo poderá aguentar por mais um ano e meio, quando terminam as privatizações.
Para o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, o financiamento externo deve se manter por mais três anos.
"O governo saberá mexer na política cambial na hora certa", afirmou Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
"Mas exatamente quando, só com bola de cristal. As autoridades não costumam gerar expectativas sobre o assunto", acrescentou.
Âncora cambial
Âncora cambial é uma estratégia de controle da inflação a partir da sobrevalorização da moeda nacional. Muitas economias latino-americanas -Brasil, Argentina e México- adotaram essa política.
No caso brasileiro, a partir de 1º de julho de 94 o BC deixou de corrigir a cotação do dólar nos mesmos índices da inflação, como fazia antes. Isso fez com que os importados ficassem mais baratos.
Mas há um preço a ser pago: muitos setores -o de calçados é um dos exemplos mais citados- têm dificuldades em enfrentar a concorrência estrangeira. O resultado, em muitos casos, é o desemprego.
Além disso, o país passou a ter déficits comerciais, perdendo dólares. Para compensar essa perda, o BC é obrigado a manter os juros altos para atrair investidores externos. E juros altos significam crescimento menor.

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