São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997
Próximo Texto | Índice

Violeiros apresentam a verdadeira música sertaneja

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem acha que música sertaneja é sinônimo de duplas como Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo, um festival vai ajudar a colocar os pingos nos is.
"Violeiros do Brasil", de 26 de agosto a 7 de setembro no Sesc Pompéia, reúne nomes como Almir Sater, Pena Branca e Xavantinho, Tavinho Moura, Orquestra de Viola Caipira de São José dos Campos e o octagenário Zé Côco do Riachão, que vão mostrar um pouco da riqueza da viola, um instrumento que chegou ao Brasil na bagagem de portugueses, e que, aqui, ganhou um acentuado sotaque local.
Simultaneamente ao festival, ocorrem oficinas e uma exposição.
"Quando uma pessoa pega a viola, ela pega o sertão no colo", diz o violeiro Roberto Corrêa, para quem a viola "é a verdadeira linguagem do povo interiorano."
Instrumento bastante comum no interior do Brasil, principalmente no Nordeste e na região central do país, a viola é protagonista em folias de reis, folias do divino, catiras, rasqueados, repentes e em vários outros estilos.
"É impossível aprender a tocar viola em uma cidade grande. No interior, dizem que o sertão mora no bojo da viola", diz o violeiro Paulo Freire, um paulistano que se embrenhou no interior de Minas Gerais para aprender a técnica do instrumento.
A viola tem um corpo menor do que o violão, timbre mais agudo e cinco pares de cordas de aço ou metal -embora, em alguns casos, a quarta e a quinta cordas possam ser triplas.
Há também dois tipos básicos de viola, a caipira e a de cocho (parecida com o alaúde, típica do Pantanal mato-grossense).
Hoje, segundo os estudiosos, há cerca de 40 tipos de afinação diferentes para a viola, algumas com nomes estranhos como "cebolão" ou "rio abaixo".
Ancestral do violão, a viola tem diferenças também na hora de tocar. "A mão direita tem que ser mais trabalhada, já que é preciso tocar em duas cordas de uma vez", diz Corrêa, lembrando que os violeiros usam mais os próprios dedos do que palhetas.
Boa parte dos violeiros torce o nariz quando ouve Leandro e Leonardo e Chitãozinho e Xororó sendo chamados como duplas de música sertaneja.
"Duplas como Leandro e Leonardo não têm nada a ver com a música sertaneja mais tradicional. É um universo completamente diferente. Só têm uma postura rural, que nem rural é", diz Freire.
"O título é mal empregado. A música dessas duplas é romântica e já está bem urbanizada", afirma Corrêa.
Para Corrêa, o símbolo da viola é Zé do Côco do Riachão, considerado por ele um gênio, músico e instrumentista excepcional (toca rabeca, viola e cavaquinho), grande compositor e um dos melhores fazedores de instrumento. "Ele é um produto do meio absolutamente puro", afirma.
Zé do Côco, que aprendeu a tocar "fazendo imitação com os violeiros", elogia Chitãozinho e Xororó. Mas ressalva: "Meu tipo de música é outro".
Mas, aos 85 anos, não se apoquenta com a "evolução" do gênero. "Se me derem uma guitarra, eu toco. Não deixo sem saída", afirma.

Show: Violeiros do Brasil
Artistas: Renato Andrade, Pena Branca e Xavantinho, Paulo Freire (terça, dia 26); Passoca, Adelmo Arcoverde, Pereira da Viola (quarta, dia 27); Roberto Corrêa, Zé Mulato e Cassiano, Braz da Viola e Orquestra de Viola Caipira (terça, dia 02/09); Almir Sater, Tavinho Moura, Zé Côco do Riachão (quarta, dia 03/09)
Quando: terças (dias 26/08 e 02/09) e quartas (dias 27/08 e 03/09), às 21h
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia, tel. 011/871-7751 ou 871-7752)
Quanto: R$ 15, R$ 10 (usuário inscrito) e R$ 7,50 (estudantes e comerciários)

Exposição: Violeiros do Brasil
Quando: de 26/08 a 07/09 (exceto segunda, 01/09)
Quanto: entrada franca

Oficina: Violeiros do Brasil
Quando: de 27/08 a 05/09 (exceto segunda, 01/09)
Quanto: R$ 20 a inscrição para a oficina

Próximo Texto: Músicos manipulam cobras para tocar melhor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.