São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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Ex-prefeito diz que foi feita sondagem

ELIANE CANTANHÊDE; LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O ex-prefeito Tarso Genro, de Porto Alegre, disse ontem que aceita disputar a Presidência da República pelo PT, mas sob duas condições: ser lançado por Luiz Inácio Lula da Silva e ter apoio de pelo menos 80% do partido.
Numa conversa de uma hora e meia, no último dia 11, em São Paulo, Lula disse a Genro que não pretendia disputar a Presidência e sugeriu que o ex-prefeito deveria trocar a agenda de candidato ao governo do Rio Grande do Sul por uma "agenda nacional".
Desde então, Genro vem conversando com líderes de outros partidos, inclusive sobre a possibilidade de uma candidatura única de esquerda contra a do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Já esteve, por exemplo, com o senador Roberto Freire (PPS-PE), em Porto Alegre, e com o prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro (PSB), em Minas.
"Precisamos intensificar uma relação qualificada com todos os setores da esquerda", disse Genro, 50, advogado, à Folha.
Ele citou, especificamente, o PPS, o PSB e o PDT. Acrescentou depois "a necessidade de atrair personalidades desgarradas de outros partidos". "Que candidato do PT não gostaria de ter o apoio da Lídice da Mata?", questionou, referindo-se à ex-prefeita de Salvador, que é do PSDB dissidente.
Sem Itamar
Apesar de se incluir entre os moderados petistas, que querem alianças mais abertas com outros segmentos, Tarso Genro não defende a inclusão do ex-presidente Itamar Franco (sem partido) e do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PSDB) numa eventual frente de esquerdas.
"O Itamar é de esquerda? Ele é digno, mas é de centro-esquerda. Além disso, nem ele nem o Ciro fizeram qualquer aproximação com as esquerdas", disse Genro. "Então, não devemos fazer uma plataforma de campanha preocupados com eles."
Na sua opinião, o ex-governador Leonel Brizola está lançando a candidatura do senador Roberto Requião (PMDB-PR) "como forma de fortalecer a sua própria posição, e a do PDT, nas negociações com a aliança de esquerda".
Requião confirma que conversou com Brizola e, depois, com o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Eles o convidaram para se filiar ao PDT e falaram sobre a tese de uma candidatura única de esquerdas, mas sem estar a reboque do PT.
Encontro do PT
No encontro nacional do PT, no próximo fim-de-semana, no Hotel Glória, Rio de Janeiro, Tarso Genro vai votar a favor da reeleição de José Dirceu, da ala moderada, para a presidência do partido.
Diz, entretanto, que tem "antigas e amistosas" relações com o adversário de Dirceu, o deputado Milton Temer (RJ), da ala considerada "radical".
Ontem, Temer disse que "Lula é a marca do povo brasileiro", mas que se não for ele o candidato presidencial do PT, a melhor opção é Tarso Genro.
"Nenhuma alternativa, fora Lula, poderia ser melhor para enfrentar esse almofadinha do Fernando Henrique. O Genro é a alternativa consensual de um PT formulador com um PT administrador", disse Temer.
Há, entretanto, ressalvas dentro do partido a um nome que não seja o de Lula. Entre os deputados federais, por exemplo, há o temor de que se o candidato a presidente não conseguir "emplacar", o partido vai ficar sem um puxador forte de votos, com o risco de reduzir sua representação no Congresso.
Eleição prévia
O governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, afirmou ontem que, se o candidato não for Lula, ele vai apresentar formalmente a tese de prévias internas no encontro do Rio.
Único governador do PT depois que Vitor Buaiz (ES) saiu do partido, Buarque disse que não se trata de uma "idéia pessoal". Segundo ele, "muita gente, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), assina embaixo".
Há resistências ao nome de Tarso Genro, também, na cúpula do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Dirigentes do movimento dizem identificar uma franca preferência por Lula nas bases. João Pedro Stedile tem dito, em conversas informais, que Genro é "um almofadinha, um Fernando Henrique de Porto Alegre". A força eleitoral do MST não é desprezível, pois ele atua em aproximadamente 500 municípios do país.
Genro estava na manhã de ontem em Dom Pedrito (a 420 km de Porto Alegre), próximo à fronteira com o Uruguai, em plena campanha pelo governo do Rio Grande do Sul, onde falou à Folha.
*
Agência Folha - O sr. aceita ser o candidato do PT à Presidência?
Tarso Genro - O Lula conversou comigo durante uma hora e meia quando fui lançar o meu livro em São Paulo, no dia em que o (Vitor) Buaiz (governador do Espírito Santo) anunciou que deixaria o partido. Ele me disse que retiraria a candidatura e pediu para eu retomar a agenda nacional. Se ele confirmar isso oficialmente, eu vou ter de pensar com seriedade. Terei uma responsabilidade grande na minha frente. O meu candidato continua sendo o Lula e é a ele que eu vou apoiar. Se por acaso ele não concorrer, prefiro que o novo nome seja definido em convenção.
Agência Folha - O sr. seria capaz de aglutinar as esquerdas?
Genro - A coligação entre os partidos de esquerda vai ser realizada independentemente da minha candidatura. Essa é a nossa única saída. A coligação é uma necessidade política das esquerdas.

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