São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
Próximo Texto | Índice

Premiê francês critica João Paulo 2º

MARTA AVANCINI
DE PARIS

O primeiro-ministro da França, Lionel Jospin, lamentou a visita do papa João Paulo 2º ao túmulo do geneticista Jérôme Lejeune, realizada ontem.
O papa fica na França até amanhã, onde participa das Jornadas Mundiais da Juventude.
Lejeune morreu em 1994 e é conhecido como uma das lideranças da luta antiaborto no país por, entre outras coisas, ter presidido a associação Deixe-os Viver.
Ele está enterrado em Chalô-Saint-Mars (sul de Paris) e era amigo do papa.
Sua principal contribuição à ciência foi ter descoberto que o mongolismo é causado por uma anomalia genética.
"O Partido Socialista lamenta que o papa tenha escolhido orar junto ao túmulo do professor Lejeune durante as Jornadas Mundiais da Juventude", disse Jospin.
Em um comunicado oficial, o partido alerta para o fato de que a visita de João Paulo 2º pode encorajar "aqueles que lutam sob a marca da intolerância".
A visita teve caráter privado e contou com um forte esquema de segurança para impedir a aproximação do público e da imprensa.
Protestos
Pequenos grupos de moradores de Chalô-Saint-Mars tentaram protestos em favor e contra a visita do papa, mas foram impedidos pelos 150 policiais responsáveis pela segurança. A cidade tem cerca de 1.200 habitantes.
A polêmica criada em torno da visita teve grande destaque na TV francesa. O LCI, canal por cabo especializado em notícias, apresentou uma entrevista com a filha do geneticista, Claire Lejeune, e um debate com ativistas a favor e contra o aborto.
Claire disse que seu pai era contra o aborto, mas que nunca emitiu julgamento moral contra aqueles que optaram pela prática.
As críticas ao papa se baseiam no simbolismo de sua visita, tratada como um incentivo à luta antiaborto e, em segundo plano, como uma interferência na liberdade de opção pela prática.
O porta-voz das Jornadas, monsenhor Jean-Michel di Falco, não quis comentar o caso. "O único que pode falar de suas intenções é o próprio papa", disse.
Em Paris, houve algumas manifestações contrárias à visita ao túmulo de Lejeune. Um grupo de ativistas ligados à central sindical Força Operária distribuiu cerca de 10 mil preservativos aos jovens que participam das Jornadas. Hoje, o grupo Chiche! (Venha!, em francês) promete fazer a mesma coisa.
Participam das Jornadas cerca de 500 mil jovens de mais de 150 países, dos cinco continentes. O evento termina amanhã.
Primeira beatificação
Antes de visitar o túmulo de Lejeune, o papa João Paulo 2º comandou, na catedral de Notre-Dame de Paris, a cerimônia de beatificação de Frédéric Ozanam, cristão laico que viveu no século 19 e foi um dos fundadores da Sociedade São Vicente de Paula. Esta é a primeira beatificação que aconteceu na França.
João Paulo 2º também celebrou uma missa na catedral de Évry (sul de Paris), a única construída neste século no país.
Hoje, o papa batiza dez jovens de cinco continentes em cerimônia no hipódromo de Longchamp, em Paris, e amanhã participa de uma grande missa, também no hipódromo.

Próximo Texto: Estilista francês cria nova batina para evento
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.