São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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FHC e Menem selam trégua na disputa de vaga na ONU

MARTA SALOMON
FERNANDO GODINHO

MARTA SALOMON; FERNANDO GODINHO
ENVIADOS ESPECIAIS A ASSUNÇÃO

Presidentes minimizam divergências e dão "abraço carnal"

Os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem (Argentina) selaram ontem uma trégua na disputa pública por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Em conversa paralela à reunião do Grupo do Rio, os dois afinaram o discurso, resumido em três "v": Argentina e Brasil querem que a América Latina tenham "vez, voto e veto" no conselho, que comanda as Nações Unidas.
Atualmente, apenas cinco países detém essa condição: EUA, Rússia, China, Reino Unido e França. A reforma do conselho será debatida na Assembléia Geral da ONU a partir de setembro e, por enquanto, não há apoio formal da região à candidatura do Brasil a uma vaga permanente -pivô do recente conflito entre os dois países.
"Queremos a participação plena para o país ou os países que vierem a representar a nossa região", disse FHC, abrindo a possibilidade de mais de um país latino-americano representar a região no conselho.
A polêmica vai continuar. Mas os dois países acertaram que combinarão previamente seus passos no cenário internacional. O objetivo é evitar abalos ao Mercosul, a aliança econômica que os dois países lideram, junto com Paraguai e Uruguai.
"Relações carnais"
Antes mesmo de conversarem, na pose para os fotógrafos e cinegrafistas, FHC e Menem aproveitaram para descontrair o relacionamento entre os dois países.
Ao se cumprimentarem na suíte Dinastia do Hotel Yacht y Golf Club, transformaram em brincadeira a ironia feita na véspera por FHC às "relações carnais" que o chanceler argentino, Guido Di Tella, declarou manter com os EUA.
Menem e FHC levantaram-se da mesa do encontro para um abraço, que seria registrado pelas câmeras. "Isso me encanta", entabulou o presidente argentino. "Um pouco mais, nos casam", observou FHC.
Rindo, Menem aproveitou para encaixar a crítica que FHC fizera na véspera, dizendo que o Brasil não queria ter "relações carnais com ninguém".
"São relações carnais", constatou Menem no abraço. "É, carnais", devolveu FHC, emendando, às gargalhadas: "E o Guido (Di Tella) será o padrinho".
Tudo pelo Mercosul
A declaração conjunta de FHC e Menem foi apressada, segundo o presidente argentino, para barrar rumores de abalos no Mercosul.
"Precisamos evitar que siga crescendo uma versão sobre um possível distanciamento entre Brasil e Argentina", disse Menem.
Apesar de não chegarem a um acordo sobre a representação da América Latina no Conselho de Segurança da ONU, Menem insistiu em que a polêmica se resumia a uma "situação acidental" no relacionamento entre dois países.
FHC minimizou o fato de o Brasil não obter previamente o apoio a sua candidatura. Preferiu dar ênfase ao fortalecimento do Mercosul, área de livre comércio criada em 1991 e que deverá estar totalmente consolidada a partir do ano 2000.
"Nada é mais importante do que o fato de o Brasil e a Argentina estão, foram e continuarão unidos", resumiu o presidente.
Depois da reunião paralela, Menem e FHC se juntaram aos colegas do Grupo do Rio.
FHC defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU dizendo que havia um descompasso entre a nova ordem econômica mundial e os instrumentos de decisão política.
Até o início da noite, o Grupo do Rio assinaria uma declaração conjunta genérica em favor da participação da América Latina no Conselho de Segurança da ONU.

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