São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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'Doença traz metástase psíquica'

ESPECIAL PARA A FOLHA

O médico A.F., 33, descobriu que tinha um câncer no testículo em julho de 94. Casado, ele ficou abalado com a doença.
Depois de uma cirurgia que retirou o testículo doente e de ter feito radioterapia, A.F. acreditava estar livre do tumor. Nove meses depois, um gânglio mostrava que a luta ainda não havia sido vencida. Começou então um ciclo de quimioterapia.
Hoje, dois anos depois do fim do tratamento, ele está curado. Como sequela (que ainda pode ser reversível), está estéril. O esperma colhido e congelado antes do início da químio tem sido usado na tentativa de uma fertilização in vitro.
A.F escreveu, especialmente para a Folha, um depoimento sobre como o câncer mudou sua vida.
*
"Há grandes chances de ser um tumor maligno de testículo. Com essa frase ecoando em minha cabeça, confuso, saio da consulta do urologista e vou fazer um ultra-som de urgência.
As suspeitas aumentam. Vou para a cirurgia. O exame de biópsia confirma: seminoma. Apesar do prognóstico favorável, vivo uma sensação aguda de vulnerabilidade. Sinto-me ameaçado todo tempo por fantasmas imaginários.
O mito assustador criado em torno da quimioterapia é pior do que sua dura realidade. Sem cabelos, um pouco indisposto e emagrecido, passo a transitar pelos lugares despertando olhares piedosos e amedrontados. Sinto nas pessoas um vago constrangimento, um mal-estar indefinido, como um medo do "contágio emocional".
O câncer é uma doença que, além de suas complicações orgânicas, tende a produzir 'metástases psíquicas', tomar a vida da pessoa e gerar um processo de vitimização.
Por outro lado, a doença faz surgir forças de vida, reações estóicas e vigorosas, até então ignoradas.
Atualmente, dois anos depois da última sessão de quimioterapia, estou bem. Mas a experiência da doença deixou marcas que permanecem ecoando. Ninguém passa ileso por um câncer."

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