São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Fraude com cartão chega à excelência

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

As fraudes com cartões de crédito estão se tornando mais sofisticadas no Brasil e é essa maior "profissionalização" dos fraudadores que explica, em parte, o aumento no número de fraudes.
O Brasil é um dos países onde está crescendo mais rapidamente o número de fraudes com cartões, até pelo significativo aumento no uso de cartões nos últimos três anos.
Não existem números precisos, mas a previsão da Abecs (associação que reúne as empresas do setor) é que o valor das fraudes chegue a US$ 300 milhões neste ano, o que significaria aumento de 50% em relação a 1996.
Entre julho de 1996 e julho deste ano, o número de cartões aumentou 18%; o valor das transações com cartões, 14%.
"Nossa expectativa inicial era de que o valor das fraudes chegaria até a US$ 350 milhões, mas estamos revendo essa previsão por causa das medidas que estão sendo adotadas pelas empresas do setor para prevenir fraudes. Hoje, achamos que esse valor deve ficar próximo de US$ 300 milhões", diz Waldemar Petty, presidente da Abecs. As empresas estão investindo pesadamente em novos sistemas de segurança, por exemplo.
Fraudes com cartões estão aumentando em todo o mundo. O FBI (a polícia federal norte-americana) calcula que em 1995 as fraudes apenas com os cartões Visa e Mastercard, que dominam o mercado, chegaram a US$ 1,63 bilhão internacionalmente. No total, as fraudes teriam sido de cerca de US$ 2 bilhões.
Quadrilhas globalizadas
A maior parte das fraudes, calcula o FBI, ocorre nos Estados Unidos, país que concentra também a maioria dos cartões. As quadrilhas de fraudadores de cartões que atuam no mercado norte-americano também começaram a operar em outros países.
No Brasil, o aumento recente do mercado de cartões -especialmente depois do Plano Real e da estabilidade monetária- passou a atrair o interesse de quadrilhas de fraudadores, formadas por brasileiros e estrangeiros.
O simples aumento no uso não seria, porém, suficiente para justificar o crescimento -ainda maior- no número e valor das fraudes. A explicação seria a forma organizada e o uso de equipamentos eletrônicos com que trabalham grupos de fraudadores.
"Quem frauda cartão não é o peão que rouba talões de cheque. São pessoas inteligentes, bem preparadas, que entendem de sistemas de computação", afirma Petty.
"Estamos na época dos crimes eletrônicos, do criminoso invisível", concorda Manoel Camassa, titular de uma das delegacias especializadas em crimes contra o patrimônio de São Paulo, que acaba investigando parte das fraudes feitas com cartões de crédito.
Segundo ele, ainda predominam, em número, as ocorrências criminais com cartões de pequeno valor, como roubos, furtos e falsificações até grosseiras a partir de boletos roubados em estabelecimentos comerciais que ainda usam máquinas manuais para registrar dados sobre cartões.
Mas em valor as fraudes feitas por grupos organizados, com equipamentos sofisticados, é muito maior.
Sem rastro
"As pessoas, de forma geral, acham que os computadores são muito seguros, o que não é verdade. Existem muitas possibilidades de falhas de segurança no processo de emissão de um cartão, desde o levantamento de dados cadastrais até a entrega ao usuário", diz James Wygand, diretor da Kroll Associates Brasil, empresa americana de investigação privada que se tornou conhecida no Brasil ao pesquisar as contas de Paulo César Farias, o PC.
Wygand diz que está aumentando muito a incidência dos chamados crimes eletrônicos, de fraudes em empresas ao uso criminoso de informações obtidas na Internet. "O uso de senhas nos computadores permite um grande anonimato e crimes sem impressões digitais."
Consultadas pela Folha, as administradoras de cartões de crédito disseram preferir não fazer comentários sobre fraudes.

LEIA MAIS sobre fraude com cartões na Pág. 2-9

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