São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Brasil e Argentina querem o 'fast-track'

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

Brasil e Argentina deverão adotar a posição conjunta de só discutir com os Estados Unidos um acordo de livre comércio nas Américas a partir do momento em que o governo norte-americano obtiver do seu Congresso o chamado "fast-track".
Esse mecanismo dará autonomia ao Poder Executivo dos EUA para negociar com os demais países da região sem necessitar autorização prévia do Congresso.
"Sem o 'fast-track', é muito difícil para os dois principais sócios do Mercosul negociar a Alca com os EUA", disse à Folha o novo embaixador da Argentina no Brasil, Jorge Hugo Herrera Vegas.
Ex-subsecretário de Integração Econômica Americana e Mercosul do governo argentino, Herrera Vegas assume suas funções em Brasília nesta semana.
No seu cargo anterior, foi um dos principais negociadores da Argentina no Mercosul.
Essa posição conjunta de Brasil e Argentina nas negociações para a criação da Alca -Associação de Livre Comércio da América- será apresentada ao presidente dos EUA, Bill Clinton, que visitará os dois países no próximo mês de outubro.
Herrera Vegas elogiou a forma como a economia brasileira vem sendo conduzida.
Ele disse que o novo presidente do Banco Central, Gustavo Franco, alvo de críticas por parte do antigo embaixador argentino no Brasil, "conhece os problemas e as políticas que precisam ser perseguidas" pelo atual governo.
A seguir, os principais trechos da entrevista do novo embaixador argentino do Brasil à Folha.
*
Folha - O Mercosul vai iniciar conversações com Ásia, Rússia, Egito e Israel. É um momento adequado para abrir uma nova frente de negociações?
Jorge Hugo Herrera Vegas - Vejo essa nova fase de uma maneira positiva, porque indica o interesse que o Mercosul tem provocado em muitos lugares do mundo. Mas isso tem que ser posto em um quadro de prioridades. A prioridade principal é finalizar o acordo comercial com México. Depois, concluir os acordos com a Comunidade Andina (Colômbia, Venezuela, Peru, Equador e Bolívia).
Com isso, completaríamos uma zona de livre comércio na América Latina. Então, estaríamos preparados para entrar nessa segunda fase do relacionamento externo do Mercosul.
Folha - Brasil e Argentina devem apresentar um posicionamento comum junto aos EUA a respeito das negociações sobre a Alca?
Herrera Vegas - Absolutamente sim. O principal interrogante dessa visita do presidente Bill Clinton aos nossos países, no mês de outubro, é saber quando o governo dos Estados Unidos será autorizado pelo Congresso a negociar acordos comerciais com outros países.
Os EUA já têm uma autorização geral. Mas os países preferem não utilizá-la, pois seria negociar duas vezes a mesma coisa: com o governo e com o Congresso. Sem "fast-track", é muito difícil para nós negociarmos uma área de livre comércio com os EUA. O mais importante da viagem do presidente Clinton à América do Sul é saber se sua administração vai contar com autorização do Congresso para negociar a zona de livre comércio nas Américas.
Folha - As compras governamentais e a flexibilização do mercado financeiro continuam sendo um ponto de atrito entre Brasil e Argentina dentro do Mercosul. O sr. dará um tratamento prioritário para esses temas?
Herrera Vegas - É um tema importante, mas isso não quer dizer urgente ou prioritário. Minha atividade sobre esse assunto vai ser tenaz e insistente, mas não vociferante. Para aumentar a eficiência global do Mercosul é preciso ter mais competência, mas isso é difícil de ser feito porque existem costumes ancestrais e empresas que jogam entre elas. E entrar nesses grupos não é fácil. Vou conversar com empresários e tratar de convencê-los que essa é maneira de criar um Mercosul mais forte.
Folha - O ex-embaixador argentino no Brasil Diego Guelar criticou o economista Gustavo Franco, que recentemente foi nomeado presidente do Banco Central. Qual é sua opinião sobre ele?
Herrera Vegas - Para que a economia brasileira cresça, o plano econômico tem que dar certo. Gustavo Franco é um dos arquitetos do plano, conhece os problemas e as políticas que precisam ser perseguidas. Todos os especialistas que prevêem catástrofes têm se equivocado. Os prognósticos têm um custo/benefício baixo: se não ocorre nada, todo mundo esquece. Se se confirma, esses especialistas se tornam candidatos ao Prêmio Nobel de Economia.
Folha - O sr. gostará de viver em Brasília?
Herrera Vegas - Brasília é um lugar para se pensar e refletir. Não se gasta tempo no trânsito. A vida é muito boa para as crianças e para a família.

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