São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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INSTINTO ESPORTIVO

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os esportistas de alto rendimento são exagerados no seu condicionamento e quando fogem dele.
Um exemplo: o cestinha Oscar, após cada treino, lançava 500 vezes à cesta. Isso dá aproximadamente 265 mil arremessos ao ano para chegar ao movimento ideal.
Mas, na hora de comemorar os pontos, ele esquecia a plasticidade e a eficiência, vibrando, gritando, mostrando os dentes, contraindo o rosto e cerrando os punhos.
Esse gesto de raiva e força é feito também pelo tenista Gustavo Kuerten, boa parte dos atletas e por quase todos os mamíferos.
E, para todos esses, a função é a mesma: amedrontar o adversário e demonstrar potência.
O comportamento de animais e humanos é o objeto de observação da etologia (eto: costume, logia: estudo), ciência criada na década de 30 que fica no limite entre a biologia e a psicologia.
Boa parte do lado animal, porém, se diluiu com a evolução humana. Dessa forma, uma série de costumes naturais foram substituídos por usos culturais, que são mais elaborados e variam conforme a região e a época.
Levantar as sobrancelhas, por exemplo, é sinal inato de surpresa, mas, em alguns países asiáticos, a expressão ganhou uma conotação sexual. Portanto, as pessoas de lá, quando se surpreendem, contém as sobrancelhas para não ofender.
Porém, uma das conclusões da etologia é de que o homem retém uma série de atitudes e expressões que têm paralelo com as de outros animais, em especial os mamíferos e, mais especificamente, os símios.
"No esporte competitivo, as expressões instintivas ganham intensidade porque os atletas sofrem uma pressão forte e muitas pessoas estão olhando. Por isso, os gestos são excessivos", diz Sandro Caramaschi, professor do Instituto de Psicologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), com mestrado e doutorado em etologia.
A convite da Folha, Caramaschi analisou fotos de várias modalidades, identificando as emoções e dando a origem dos gestos.
Ele identificou as expressões corporais dos atletas antes, durante e depois da competição, apontando os momentos de raiva, alegria, esforço físico e decepção.
Além disso, analisou o que os corpos dos esportistas transmitem durante as disputas, o que cientificamente é denominado comunicação não-verbal.
Segundo a etologia, o gestual esportivo descende diretamente de duas fontes: as lutas intra-espécie ou tribais e das caçadas dos ancestrais do homem (leia texto na próxima página). Afinal, o esporte supre a necessidade delas.

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